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Empresas de reciclagem queixam-se de “falta de lixo”

Por admin

O lixo já alimenta fábricas de reciclagem em Maputo e destaca-se como importante fonte de produção e emprego. Não espanta, por isso, o crescente interesse que adquiriu na indústria de plásticos, onde as sobras são “matéria-prima” que gera riqueza.

Empresas de produção de plásticos exigem, por isso, mais lixo para reciclar e assumem que a quantidade da matéria-prima que recebem dos fornecedores é insuficiente para responder à demanda.

É a indústria de reciclagem a ganhar forma. Pelos vistos não se queixa de falta de mercado.

O reaproveitamento de resíduos sólidos como garrafas plásticas, bidões, peças de bacias, entre outros, já é uma realidade no país. Estão em funcionamento em algumas províncias, com maior destaque para Maputo e Manica, empresas do ramo de produção de utensílios domésticos cuja sua matéria-prima é o lixo, até bem pouco tempo “produto marginal e sem utilidade”.

Para além de alimentar a indústria, o lixo dá emprego à pessoas singulares e empresas, que se revelam imprescindíveis na recolha visando posterior venda (ou revenda) em fábricas nacionais ou sediadas no continente asiático.   

Só o Município da Matola, província de Maputo, conta actualmente com duas empresas do ramo, nomeadamente Agriplas e Wong Long, na zona da BIC e Machava-sede, respectivamente.

Responsáveis das empresas Recicla e Agriplas, que falaram recentemente à nossa Reportagem, confessaram que no país não há dificuldades na comercialização tanto dos resíduos sólidos, como dos utensílios fabricados através destes. A única complicação neste momento assenta na garantia de matéria-prima suficiente para as fábricas funcionarem sem pausas.

A Agriplas é produtora de utensílios domésticos como bacias pequenas e médias, baldes, cabides para roupa, molas, ancinhos, vassouras, pratos para alimentação, tigelas, dentre outros. Produz qualquer coisa como 1200 baldes por dia.

Segundo Fernando Pedrosa, director da Agriplas, maior quantidade da sua mercadoria é escoada para as províncias das regiões centro e norte do país onde é vendida para centros comerciais, associações, empresas, assim como para singulares.

Tomás Chauque, gerente da Recicla, disse que neste momento trabalha para três empresas: duas sedeadas na Matola e uma em Chimoio. “Até ao momento não conseguimos dar a entrega que os nossos clientes precisam. Por exemplo, o nosso cliente de Chimoio vem uma vez por mês e leva seis toneladas. Precisava mais. O outro cliente é Agriplas que necessita de 150 toneladas por semana. Tentamos nos esforçar mas ainda estamos muito longe de atingir a meta”, admitiu.

“MUNICÍPIOS

DEVIAM AJUDAR”

Empresas de reciclagem de lixo gostariam de trabalhar em parceria com as autoridades municipais na perspectiva de incrementar volumes de matéria-prima.

 “Os equipamentos que usamos são muito caros e o volume de lixo que existe, quer a nível de recolha, assim como de vendas, ainda não justifica grandes investimentos. Se houvesse uma colaboração dos municípios posso garantir que teríamos muita matéria-prima”,disse Fernando Pedrosa, director da Agriplas, que funciona desde 1994.

Acrescentou que a sua empresa não tem equipas fixas nos diferentes locais de descarregamentos de lixo, alegadamente porque esse seria o trabalho dos municípios.

“Era bom que os municípios fizessem já a separação do lixo para facilitar o seu reaproveitamento, facto que ajudaria na limpeza das cidades e vilas”, referiu o nosso entrevistado.

Para Tomás Chauque, da Recicla, é preciso que a sua instituição seja tratada pelo Conselho Municipal como as micro-empresas que vem fazendo os trabalhos de recolha de lixo na cidade de Maputo.

“Achamos que não há diferença entre a Recicla e as micro-empresas. Talvez a única diferença que existe é que elas recebem dinheiro pelo trabalho que prestam e nós saímos por nossa livre vontade. O Governo devia nos dar um pequeno subsídio para podermos fazer a reabilitação das nossas infra-estruturas.”, Referiu.

Efectivamente, a recolha e venda de lixo ajudam na limpeza dos bairros municipais e destacam-se, igualmente, como “ganha-pão” para considerável número de famílias. A Agriplas, que funciona desde 1994, conta actualmente com 35 trabalhadores, distribuídos por sectores que vão desde a separação, lavagem e trituração de lixo até ao empacotamento de bens reciclados.

Com estes trabalhadores a empresa perspectivava ter pelo menos 50 toneladas de resíduos sólidos processados por semana contra 17 toneladas que são processa presentemente.

Por outras palavras a Agriplas necessita mensalmente de mais de 150 toneladas de lixo por processar e até ao momento recebeu dos seus fornecedores apenas 70 toneladas.

Em conversa com o director daquela empresa, Fernando Pedrosa, ficamos a saber que os seus provedores de matéria-prima são indivíduos organizados em associações, empresas e às vezes singulares posicionados em vários pontos das cidades de Maputo e Matola.

O nosso entrevistado referiu com o lixo acumulado na sua empresa consegue produzir, num só dia, cerca de 1 200 baldes de plástico.

EXPORTAÇÃO DE LIXO

PENALIZA MERCADO INTERNO

Cerca de 80 por cento da matéria-prima da Agriplas vem da Recicla, outra empresa montada nas imediações da Lixeira de Hulene, município do Maputo, vocacionada na recolha, empacotamento e trituração de resíduos sólidos.

Refira-se que a máquina que funciona na Recicla tem a capacidade de moer uma tonelada de resíduos sólidos por hora. Contudo, o gerente desta unidade fabril, Tomás Chauque, disse que não tem conseguido atender as necessidades dos seus clientes devido a entrada descontrolada no país de indivíduos que vem recolher resíduos sólidos para exportação.

Trata-se, segundo o nosso entrevistado, de revendedores que prometem valores elevados aos angariadores de lixo, muito acima dos aplicados por entidades locais que variam entre 3 meticais a 4 meticais 50 centavos por quilograma.

Resultado: sobra muito pouco para alimentar o circuito interno de produção. “Esses indivíduos que vêm de fora estão a estragar o nosso negócio, mas já estamos a trabalhar para inverter o cenário. Com esta concorrência já mobilizamos algumas pessoas para juntarem o lixo nos seus bairros e nós vamos buscar logo que nos contactarem. Já não é altura de esperar que eles tragam matéria-prima à nossa empresa”, referiu Chauque.

GARRAFAS PLÁSTICAS

SEM MERCADO

Empresas processadoras de resíduos sólidos no país ainda não estão a reaproveitar as garrafas plásticas. O director da Agriplas prometeu que a sua empresa está a equacionar dentro deste ano passar a produzir mais produtos através destes materiais.

O gerente da Recicla disse, por seu turno, que nunca recebeu uma proposta para fornecer estas garrafas às empresas que operam no país. Neste momento trabalha com uma empresa que alimenta o mercado externo.

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