POR SARA JONA LAÍSSE
Mutiladas é o título da última obra do escritor moçambicano Eduardo Quive, lançada em Maputo, em Maio do presente ano. A obra é composta por 12 contos, narrados em 101 páginas.
A miséria do mundo
Ler Mutiladas recordou-me o modo como a obra Angústia do escritor brasileiro Graciliano Ramos foi escrita: a temática, o tipo de narrador e o facto de abordar a época vivida pelo seu escritor. No seu livro, aquele autor conta os dramas do comportamento humano, através de um narrador-personagem que denuncia modos de agir de pessoas a viverem no seu limite de humanos. A crítica a essa sua obra, tem, repetidamente, afirmado que o autor “narra a miséria de estar no mundo”.
Em Mutiladas, a miséria humana é analisada por um dos narradores introspectivo de Quive. O outro narrador, observa-a e relata-a minuciosamente. As acções têm lugar em espaços-representações de Moçambique (Maputo, Chokwe, Gaza e Matola), com reminiscências em Lisboa, por, a partir de lá, o narrador observar e abordar Moçambique. O comportamento das “pessoas está na base dos contos. A época fabulada é contemporânea à do seu autor empírico, a julgar pela menção aos my love, aos grupos de WhatsApp, aos smarphones, aos memes, aos emojis, à verificação de status em redes sociais e a feminicídio. A temática do livro é focada no dia-a-dia, num género literário pós-modernista, marcado pela forma como o real e o imaginário são construídos, bem como o imediatismo e o pano de fundo de um texto com uma linguagem rente à dos média electrónicos nos quais predomina a cultura de massas.