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Desinformação como arma política

Por admin

Ultimamente tem se visto um fenómeno estranho ao nível da massa pensante nacional, que se caracteriza por elaborar teses que partem de premissas falsas de modo a construir uma verdade forjada para fins que ninguém ousa confessar.

Tem se visto nos debates televisivos, tem se visto isso nos artigos de opinião, tem se visto isso em “grandes entrevistas”, tem se visto isso em quase todos os fóruns de debate onde essa massa pensante participa.

Este aspecto leva-me a crer que esta massa pensante está a laborar para um certo objectivo, pois todos nós sabemos para onde é que vai esse tipo de debate, e qual é o seu fim, embora não tenhamos coragem de assumir isso claramente.

Há uma sede de saltar objectivamente as instituições e desenhar um novo rumo que não passa, nem pela legalidade e muito menos pelas mínimas regras de convivência social, ou pelas balizas políticas existentes e que regem este país desde que abraçamos a democracia como modelo político.

E no meio de tudo isto, ninguém vê nada de errado, e vai daí que a maioria dos pensadores navegam nesta corrente sem adivinhar nas consequências futuras deste modo de pensar, e nem se preocupam com este precedente que corajosamente apoiam.

Esta massa pensante instrumentaliza a sociedade através dessas opiniões, para que esta sociedade também vai perdendo o seu senso de urbanidade, e vai navegando nessas ideias que se postos no tribunal do bom senso, mostram-se sem peso nenhum, uma vez que andam à leste da realidade institucional nacional.

Um destes pensadores fez uma carta a dizer que o presidente devia sair do poder enquanto é tempo, e vieram vozes a apoiar esta aberração.

Será que esquecemos todos nós que os mandatos presidenciais têm um tempo especificado na Constituição da República, que é a lei superior entre todas as Leis? Claro que foi um esquecimento conveniente, pois os ilustres pensadores marcharam por cima da lei mãe sem remorsos, apoiando uma esta aberração.

Sim, apoiou-se, porque em nenhum debate saíram os ilustres pensadores a criticar esta postura selvagem de pontapear a Lei mais importante do país, pelo contrário, varreu-se isso para debaixo do tapete.

Outro ilustre veio dizer que Moçambique não se pode desenvolver porque assim ia criar condições para o surgimento de uma ditadura! Este papo andou à vontade, e nenhum dos ilustres opinion makers descobriu algo de mal nesta afirmação, nem o facto de esta mesma afirmação ser anti-soberana, demoveu os ilustres pensadores, pois nem uma linha de um editorial mereceu!

Estes são exemplos claros de como anda o nosso espaço de debate, e também a forma de alinhamento das prioridades para se debater, refutar, criticar e ou denunciar. O alinhamento é claramente para o caos, e não há na verdade nenhuma vontade para se construir uma sociedade sã a partir do debate dos nossos intelectuais.

Os nossos intelectuais têm o seu debate centrado somente no Governo, e nem é de uma forma construtiva, mas sempre de uma forma negativa e que puxa à formatação anárquica da opinião geral, sem na verdade se dizer para que fins específicos se precisa de manter um debate fútil e não construtivo.

Atenção, não digo que não se pode fazer um debate em que se fale do Governo, mas os fazedores de opinião devem também ser confrontados quando tiram cá para fora opiniões que não ajudam em nada para o bem comum; ou façam comentários desajustados com a nossa realidade, ou com o país que desejamos ser no futuro.

Actualmente o debate se torna e se consolida na emoção, onde as ideias não são trabalhadas, mas somente são cuspidas e colam como verdades, porque ninguém dos que moldam o pensar social tem tempo de andar pela linha de harmonia institucional da mesma sociedade, e ninguém tem coragem de dizer a outro ilustre pensador que está a andar em contramão, e essas inverdades fazem escola e teimam em se apelidar de verdades.

O respeito pelas instituições é a base para a cidadania, e a denúncia de actos que ponham em causa esta sociedade institucionalizada que somos, é um acto de cidadania e de construção de uma sociedade que almeja um futuro estável e promissor na convivência entre os moçambicanos.

Querer destruir as instituições, quer activamente (através de ataques velados), quer passivamente (através da aceitação tácita de ataques velados por não denuncia-los), leva-nos a um beco escuro e sinistro, em que acordaremos também sinistros e escuros.

Um plano que é dado aos pedaços, embora compense de momento, pode ser perigoso, porque avançamos às cegas, e não sabemos qual é o real objectivo do próprio plano, e corremos o risco de sermos o primeiro boi que conduz outros para o matadouro! Pensamos que somos líderes de uma manada rumo ao que pensamos que é ideal, mas no fundo, se essa marcha passa por sabotar os alicerces da sociedade, ela não pode seguramente conduzir a um bom porto!

Moçambique era dependente da ajuda externa em 60 porcento em 2009, e hoje está nos 40 porcento e reduzindo, e não se questiona porquê, como e quem? Hoje Moçambique acolhe grandes companhias mundiais de investidores, tanto na exportação e assim como nas infra-estruturas; não se pergunta como, porque e quem? As grandes obras que estão nascendo em quase todo o país, desde a expansão da electricidade, de infra-estruturas de saúde, vias de acesso, não se questiona quem como e porquê?

O sucesso sempre atrai inimigos, e como disse o saudoso presidente Samora Machel, “se entra um feiticeiro em casa, é porque alguém lhe abriu a porta”, e nós podemos estar a abrir uma caixa de pandora defendendo ideias absurdas inconscientemente, somente para estar de um lado, que no fundo nem sabemos se é o certo ou não, porque nem sabemos o fim que nos vai dar amanhã.

Levar aspectos individuais para destruir um bem comum, é próprio de pessoas sem escrúpulos e cegas, que se guiam por cajados tortos que somente lhes faz andar aos círculos à volta de uma cova sem fundo. O despertar esse será sempre doloroso e o arrependimento amargo.

Vamos discutir as nossas diferenças dentro da urbanidade, com uma visão comunitária clara, e sem esta diabolização do espaço de debate, onde uns são os iluminados e tem capacidade de ver erros colossais onde há soluções. Se o debate fosse profícuo, e com tantos fazedores da opinião pública, não teríamos nenhum problema por resolver, porque cada crítica saudável é sempre acompanhada de uma solução definitiva.

Onde há tanto debate e não há solução, então temos que ter em conta que esse nível de debate não é saudável, e alguma coisa anda em contramão contra o bem-estar geral, uma vez que que esse mesmo debate ou é improdutivo ou então tem uma finalidade que não é comunitária.

Por isso, o debate, para ser libertador e claro, deve andar nos carris da nossa convivência social e deve guiar-se pela mais nobre das intenções, e principalmente, ele não deve seguir emoções rancorosas ou ajustes de contas, uma vez que essa forma de debater é primitiva, e conduz por sua vez ao primitivismo!

Há uma necessidade de equidistância, mas tudo tendo os olhos nos termos de referência institucionais, e ou sociais, de modo a que a nossa opinião saia como algo construtivo e futurista, e que ofereça segurança não só aos que acompanham as nossas ideias, mas principalmente a nós mesmos!

Optar pela desinformação para se atingir ganhos políticos, é o mesmo que plantar uma bomba para o mesmo comboio em que viaja: não sabe em qua carruagem explodirá a bomba. Se na tua ou na daquele que você plantou a bomba a pensar nele.

Por isso, deve se fazer política pela política, e deve se seguir as normas, tendo em conta que estamos numa sociedade em que as balizas de convivências são essas mesmas leis que vilipendiamos ou que deixamos ser vilipendiadas.

Os factos são normalmente escondidos, redesenhados e adulterados, fazendo um cocktail de mentiras que tentamos a todos o custo plantar na nossa sociedade, e ficamos expectantes pelos resultados. Isto é, o nosso debate é como uma bola de neve, pois esperamos que ele cresça e não que ele seja como uma árvore fruteira, que dê frutos para o bem da sociedade como um todo.

Essa sede de ampliar um discurso individualista e que fere a convivência social geral, é uma patologia que deve ser extirpada, não para diminuirmos a nossa importância, mas para que o debate seja mais profícuo, produtivo, isento e um bem comum que faça crescer a sociedade como um todo, rumo a um ambiente de respeito mútuo, e deste que nasça um outro respeito pelas instituições e pelas leis.

PS: Para os incrédulos:

Vimos como é que os acontecimentos de Munhava se desenrolaram até atingirem proporções de selvajaria pura. Vimos a prontidão dos membros de um certo partido, os cocktails molotovque foram cientificamente feitos e atirados contra viaturas e membros de um outro partido, o alinhamento militarizado que esses membros mostraram no seu confronto com a polícia.

Há uma versão de “camisas negras” de Mussolini que estão a ser preparadas para as épocas eleitorais, e cujo rabo do gato já foi descoberto, e cabe aos opinion makersdenunciar este tipo de prática, porque é uma das que andam à margem de uma sociedade pacífica e não está de olhos no futuro que queremos harmonioso, mas quer criar o caos para ganhos individualizados. Esta é uma decisão extra-institucional e que está contra o bem comum, por isso repudiável e condenável por qualquer pessoa de bom senso!

 

Américo Matavele

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