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A vez de enfrentar o temível Janeiro

Por admin

A quadra festiva lá se foi. Ficam na memória os episódios que cada um viveu nos dias comemorativos e na meia semana que o governo ofereceu para o repouso geral, tipo férias colectivas que foram aproveitadas para se recompor depois da euforia da transição de 2013 para 2014.

 Entretanto, muitos não tiram o pensamento do longo e doloroso mês de Janeiro que, vem recheado de despesas. Nos mercados, há vendedores a lacrimejar porque tem mercadoria a deteriorar-se.

A mensagem que mais circulou nos telefones celulares desde a semana do Natal (Dia da Família) resumia toda a realidade que muitos chefes de família vão ter que enfrentar até que caia o próximo salário ou que os negócios voltem “aos caris”.

Previsão para Janeiro. Bolsos Vazios, nervosismo, geleiras só com garrafas de água, sacos de arroz quase vazios, garrafas de óleo sem nada, celulares com 0,01 meticais de crédito. Prevê-se ainda a ocorrência de pequenos conflitos conjugais devido à falta de caril, com tendência de agravamento da crise nos próximos dias por causa das despesas com matrículas, material didáctico e uniforme escolar”, citámos na íntegra.

Enquanto aquela mensagem se concretiza aqui e acolá, o país viveu um momento atípico, com as cidades e vilas literalmente paradas em gozo duma merecida folga ofertada pelo governo. A cidade de Maputo, por exemplo, se tornou irreconhecível. Sem um pingo de congestionamento, com lojas, bares, restaurantes e mercados encerrados, paragens às moscas, enfim, coisa que não se via há muitos anos.A Tolerância de Ponto decretada pelo governo resultou pelo facto de ter permitido que os moçambicanos pudessem festejar condignamente. Esse objectivo, sem dúvida que foi alcançado no seu âmago, com a vantagem de ter havido poucos incidentes associados àquelas celebrações.

Na sequência a comemoração do começo de 2014, a agitação típica das estradas do país sumiu e deu lugar a um sossego extraordinário. Entretanto, o mesmo não se pode dizer em relação às vias orientadas para as estâncias balneares que, ao contrário de outros anos, desta vez acolheram mais turistas nacionais que estrangeiros.

As casas de pastos encerraram, polidores de carros deixaram os passeios livres para a circulação de um e outro peão, e até os mais fervorosos vendedores ambulantes se deixaram embalar pelas férias de âmbito nacional que o país viveu.

Nos mercados, idem. Os poucos centros comerciais que se mantiveram abertos tinham tudo pelo mínimo. Poucos vendedores, pouca mercadoria disponível e quase nenhum comprador. Na ronda que efectuamos por vários pontos de Maputo e segundo relatos que colhemos junto de colegas posicionados nas capitais provinciais, vendedores se deram ao luxo de jogar cartas, trocar copos e mergulhar em animadas cavaqueiras porque o negócio tinha entrado num sono profundo.

Na zona mais movimentada da baixa de Maputo (no terminal dos transportes semi-colectivos), os passageiros, que em condições normais se acotovelam para aceder àqueles transportes não existiam, mesmo nas rotas mais requisitadas. Os poucos utentes até podiam se dar ao luxo de escolher em que viatura embarcar, como se estivessem em grandes metrópoles, como Londres, Nova Iorque, Tóquio ou Genebra, onde transporte não é assunto para conversa.

Ainda na zona baixa da cidade de Maputo, a nossa Reportagem constatou que os poucos transeuntes eram agentes da polícia, elementos da segurança privada, alguns vendedores ambulantes, polidores e aqueles trabalhadores que exercem actividades tidas como indispensáveis, mais um e outro peão e automobilista.

Temível Janeiro!

Anita Manhiça, residente em Maputo, celebrou a transição do ano na vila fronteiriça de Namaacha, na província de Maputo, e conta que, apesar de não ter feito grandes gastos com as festas, sente um “frio no estômago” quando pensa nas despesas que se avizinham.

Só Deus sabe como vou viver neste mês difícil, porque não há dinheiro. Tenho que matricular os meus filhos, comprar material escolar e garantir que haja comida na mesa todos os dias”, lamentou.

Um pouco por todo o lado, chefes de família como Anita Manhiça admitiam ter tido uma quadra festiva à medida das suas condições mas, manifestavam um sentimento de preocupação em relação às despesas que estão a chegar com o começo de Janeiro.

Quem se mostrou relaxada foi Laura Buque que disse que foi sensibilizada a poupar pelos pastores de sua igreja ao mesmo tempo que elogia o facto de não ter havido grandes “danças” de preços nos mercados. “Os pastores nos sensibilizaram a não gastar excessivamente durante as festas, pior por causa da tolerância que deram. Por isso, só comprei o necessário. Agora poderei aguentar durante todo o mês sem problemas”, referiu.  

No que concerne ao material escolar dos seus netos, Laura explicou que isso estava fora da sua alçada, a única coisa que devia garantir era que os petizes estivessem matriculados. O material e uniforme será assegurado pela mãe das crianças que se encontra a residir e a trabalhar na vizinha África do sul.

domingo procurou saber dos vendedores ambulantes como estava o movimento naqueles dias e a resposta foi unânime. Estava tudo parado. Eram poucos que procuravam comprar, seja lá o que for. Um dos vendedores foi Pedro Armando, que disse a nossa reportagem que passou as festas com a família, em Maputo.

Este disse que interromperam os trabalhos apenas no dia 1 de Janeiro. “A verdade é que estamos aqui para tentar a sorte, porque há sempre alguém a comprar, mas está muito fraco. Temos que ver se repomos o dinheiro que gastamos nas festas. Para o meu caso, que tenho filhos que estudam, ainda estou a dever comprar material escolar pelo que não me posso dar ao luxo de ficar em casa a dormir.”

Tomate apodrece no “Zimpeto”

A nossa equipe de Reportagem deslocou-se ao Mercado Grossista de Zimpeto com o intuito de fazer o balanço pós festas. Uma das coisas que chamou a nossa atenção foi a quantidade de tomate deteriorado que encontramos e os preços que eram efectuados por caixa. 

Naquele entreposto, estavam parqueados cerca de 30 camiões cheios de tomate que está a ser vendido ao preço de 150 meticais por caixa, quando os vendedores afirmam que adquiriram aquele produto a 350 meticais. Nas cercanias, alguns vendedores tentam recuperar o prejuízo separando o tomate bom do podre.

Segundo ficamos a saber junto do Administrador do mercado, Moisés Covane, que aquele produto foi adquirido com vista a garantir stock para as festas, no entanto, devido as chuvas que se fizeram sentir nos últimos dias do ano passado (2013), as vias de acesso do posto administrativo de Catuane, distrito de Matutuine ficaram intransitáveis o que dificultou a chegada dos camiões à cidade de Maputo.

Os operadores estão a vender só para conseguir recuperar algum valor, mas a este preço não será possível, pois não temos compradores. O tomate devia ser vendido ao preço mínimo de 400 meticais, isso para dizer que estamos a perder cerca de 250 por caixa”, disse.

Uma das operadoras ouvidas pelo domingo foi Josina Manuel que procura de soluções para sair do imbróglio em que se viu mergulhada por ter adquirido grandes quantidades de tomada e estar literalmente a “ver navios” por falta de clientela.

Desta Vez fui pessoalmente comprar tomate em Catuane, o carro enterrou e ficamos dois dias parados e o resultado é este. Uma semana antes compramos o mesmo tomate ao preço de 250 meticais por caixa. Fomos avisados de que o preço subiria para 300 mas quando chegamos custava 350 meticais”, disse.

Por outro lado, os comerciantes que se dedicam à venda de produtos frescos como batata reno e cebola não têm muitos motivos de queixa. São poucos que viram os produtos deteriorados pois, a maior parte conseguiu vender quase toda a mercadoria e agora começa a praticar preços de tipo “saldo” ou “liquidação total”.

Ainda assim, os comerciantes que acumularam prejuízos garantiram ao nosso jornal que desta vez os danos são menores quando comparados com os de Janeiro de 2013, isso porque não houve muita especulação que era mesmo para evitar ver os seus produtos pobres. 

 

Angelina Mahumane

vandamahumane@gmail.com

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