A dança pela aquisição de produtos alimentares para a passagem das festas de Natal e de Fim de Ano já começou a agitar a cidade de Lichinga. Os cidadãos que ainda têm algum poder de compra, acotovelam-se nos principais mercados municipais, supermercados, talhos e outros locais onde se procedem à venda de alimentos e bebidas.
Com efeito, a maior parte das pessoas que aceitou falar ao nosso jornal garantiu que este ano, apesar de os bolsos não estarem à altura dos preços, as festas vão ser bem passadas, justificando esta convicção com o facto de o Governo ter garantido o pagamento dos salários de Dezembro a tempo e horas a todos os funcionários públicos.
De facto, nos últimos dias, em tudo o que é lugar público, pode-se ver aglomerados de pessoas. As ruas, essas, andam abarrotadas de gente que quer apreciar as montras móveis que os vendedores ambulantes improvisaram nas bermas, tentando chamar a atenção dos transeuntes que por aí passam com intenção de encontrar e comprar algo que possa servir de presente para um familiar ou amigo. De referir que o director provincial do Plano e Finanças de Niassa, João Joãozinho Brandeira, apareceu em público a prometer o pagamento de salários aos funcionários públicos até ao dia 19 passado.
Se o Governo já cumpriu a promessa de pagar os salários em tempo útil, o mesmo não se pode dizer em relação aos bancos comerciais, que não conseguem acompanhar o movimento desusado de clientes que acorrem aos seus balcões para levantarem dinheiro para as compras. As máquinas automáticas de pagamento, vulgo ATM´s, invariavelmente, fora de serviço, são consideradas como sendo o principal “calcanhar de Aquiles” para os funcionários, e não só.
Sobre o assunto, os utentes dos bancos acusam os trabalhadores destas instituições financeiras de pouco fazerem para resolver o problema das intermináveis enchentes nas ATM´s, que provocam, por conseguinte, longas filas de pessoas, fora e dentro dos bancos.
Sobre o assunto, a nossa reportagem acompanhou o movimento de alguns bancos, tendo constatado que, efectivamente, há falta de vontade de certos trabalhadores bancários de ver a vida dos clientes facilitada, uma vez que as ATM´s em situação de “fora de serviço”, na sua maioria, ou não têm dinheiro, ou, pura e simplesmente, estão paradas por falta de prévia assistência técnica.
Os bancos, porém, reconhecem os sacrifícios a que os utentes são submetidos na altura de levantarem o seu dinheiro, mas defendem-se alegando que as enchentes não permitem que os trabalhadores consigam tempo suficiente para o reabastecimento das máquinas, para além de que, segundo as mesmas fontes, há falta de planificação dos clientes relativamente aos valores a levantar.
“Temos casos em que um mesmo cliente vai a ATM três a cinco vezes ao dia para levantar apenas entre 100 e 500 meticais. Isso rouba tempo aos outros clientes que precisam das mesmas máquinas para levantarem o necessário para as suas compras”, anuiu um funcionário bancário, que pediu anonimato.
PRODUTOS ALIMENTARES MAIS CAROS
No que às festas diz respeito, na cidade de Lichinga, há de tudo, desde alimentos, passando pelas bebidas, até aos artigos para presentes. O problema está na capacidade de compra da maioria da população, pois, segundo algumas pessoas, os principais produtos estão ao preço da morte, não se sabendo o que estará por detrás desta situação, uma vez que Niassa é uma província potencial em produtos agrícolas, nomeadamente feijões, batatas-reno e doce, hortícolas, arroz, milho, entre outros produtos alimentares.
Da ronda que efectuámos pelos principais centros de compra, constatámos que uma lata de 20 litros de feijão está a ser vendida entre 700 e 750 meticais, contra os 500 meticais de há sensivelmente um mês. A batata reno também se valorizou. Passou dos 150 meticais por lata de 20 litros para 250. Estas duas subidas são consideradas as mais preocupantes, uma vez que se trata de dois produtos principais para famílias de renda baixa.
De referir que Niassa é uma das grandes produtoras de feijão e batata-reno de Moçambique, pelo que não se compreende a prática de preços especulativos para produtos produzidos localmente. Ademais, o movimento de comerciantes vindos do sul do país, acusados de estarem a influenciar a subida galopante de preços agrícolas, reduziu drasticamente nos últimos meses, devido à situação de conflito armado que se vive na zona de Muxúnguè, na Estrada Nacional Número Um (EN 1).
Sobre o assunto, Ramos Sitoi, um cidadão de Maputo, disse à nossa Reportagem que “já não compensa transportar feijão de Niassa para o Sul do país”, justificando que “vale a pena comprar o feijão vindo da África do Sul, pois, neste momento, o valor de compra dos produtos de Niassa, mais o preço de transporte, triplica, de longe, os custos de operação”.
Só para ilustrar, uma lata de 20 litros feijão manteiga custa, na cidade de Lichinga, 750 meticais, adicionados aos pouco mais de 700 meticais de despacho nas Linhas Aéreas de Moçambique e taxa de Aeroporto, o produto final vai custar em Maputo mais de 1.400 meticais. Lembramos que uma lata de 20 litros de feijão pesa cerca de 16 quilos.
Embora as autoridades da Indústria e Comércio da província propalem aos quatro ventos que o sector de Inspecção vai apertar o cerco aos especuladores, a verdade é que nos principais mercados municipais a prática de preços proibitivos continua firme. Os comerciantes, como sempre o fizeram em vésperas da quadra festiva, alegam que compram os produtos a preços altos e que, com a subida, pretendem recuperar o valor despendido.
Entre os produtos que conheceram agravamento de peso figuram o tomate, que passou de 400 meticais por bacia de 25 litros para 900 meticais. A ervilha, que há um mês era vendida a 200 meticais por bacia de 20 litros, agora custa entre 350 a 400 meticais.
Para variar, os galináceos sofreram também um agravamento de preços, chegando um frango de pouco mais de um quilo a ser comercializado a entre 200 a 250 meticais. Os ovos sofreram ligeira subida. Um favo custa agora 180 meticais contra os 150 de há um mês.
Entre os cereais, apenas o milho conheceu agravamento. Uma lata de 20 litros está ao preço de 200 meticais contra os 150 de há um mês. O arroz e os óleos se mantêm com preços estabilizados. Um saco de arroz de 25 quilos custa os mesmos 600, 650, 750 e 800 meticais, dependendo da qualidade do produto, enquanto um litro de óleo continua a custar entre 70 e 350 meticais, dependendo da capacidade do recipiente.
Nem tudo corre mal. Há uma boa nova. Os consumidores de bebidas alcoólicas podem dar-se por felizes. A Handling diz que os preços das bebidas mantêm como antes. Uma caixa de cerveja (lata) 2M e Manica custa 791 meticais e 380, a garrafa. Se a bebida tiver a marca de Laurentina (lata), o cidadão deve despender 851 meticais.
As crianças e outras pessoas que não consomem bebidas alcoólicas também podem ficar tranquilas porque, segundo a Handling, os preços não foram mexidos, estando uma caixa a ser vendida ao preço de 225 meticais e 460, em lata.
Para completar a ronda que fizemos, importa referir que a Polícia da República de Moçambique já está em prontidão e promete não facilitar a vida aos que perturbarem a tranquilidade e ordem públicas durante a quadra festiva. “Prometemos tolerância zero. Queremos que a população de toda a província passe as festas com relativa calma, sem qualquer medo de quem quer que seja”, advertiu uma fonte do Comando Provincial da PRM, ao mesmo tempo que aconselhava a todos os cidadãos para evitar excessos durante as festas e respeitar as leis e demais regras estabelecidas pelas autoridades competentes do país.
André Jonas