O sacrifício de um boi e “conversa” com antepassados para estes apoiarem o espírito de Nelson Mandela são alguns pessos a serem respeitadas no funeral do líder “anti-apartheid” falecido quinta-feira, mas que “fala constantemente” com o neto mais velho.
Os restos mortais de Nelson Mandela seguiram ontem para Qunu, onde o antigo presidente sul-africano passou parte da sua infância, mas o enterro é reservado à família, que não quer que a cerimónia privada seja transmitida pela televisão.
“Um funeral é uma cerimónia complexa”, disse o chefe do clã Thembu, Jonginyaniso Mtirara, que explicou o ritual Xhosa que vai guiar a cerimónia privada de enterro de Mandela.
Para o povo Abathembu, os vivos comunicam-se com os ancestrais, a quem fazem um pedido especial para permitirem que o espírito do falecido possa descansar em paz.
“Derramar sangue de animal é uma parte muito importante do processo do funeral”, para a tradição Xhosa, a base da qual Mandela foi criado, apesar de ter frequentado a religião metodista, garante Jonginyanison Mtirara.
Os Xhosa encaram esta formalidade como essência para que o espírito do falecido possa descansar em paz, até porque, em vida, o ex-presidente sul-africano pediu para ser sepultado na região onde passou a sua infância.
Os rituais de acompanhamento do espírito Mandela incluem sacrificar uma cabeça de vaca na véspera do enterro, o que deverá ter ocorrido nas primeiras horas de ontem, sábado, após o que a carne deste animal é cozinhada sem especiarias em grandes panelas de ferro e em fogo aberto.
“Como africanos, temos ritos de passagem, sejam eles no nascimento, no casamento ou no falecimento. Mandela será enviado ao mundo espiritual para que ele seja acolhido pelos ancestrais. E também para que ele não fique bravo”, disse o especialista em religiões africanas, Nokuzola Mndende, citado pela Reuters.
Na sua autobiografia, Mandela sempre se mostrou favorável ao respeito a esses rituais Xhosa, que eram seguidos pelo seu pai, apesar de sempre ter seguido a religião metodista da mãe.
Mandla Mandela, neto mais velho do então presidente sul-africano, deve ter anunciado ontem as conversas que tem mantido com Nelson Mandela, desde que faleceu, com quem “fala constantemente”, referiu sexta-feira a agência AFE.
Antes do funeral começar oficialmente, nas primeiras horas de hoje outro boi será sacrificado como parte do ritual de despedida da família e, a seguir realiza-se o funeral de Estado.