Soube perdoar e tranformar os seus inimigos em adversários políticos de uma época manchada de equívocos. A África perdeu um dos seus maiores ícones dos últimos tempos. Não direi o maior mas o mais incisivo dos últimos anos, ao carregar dores e mágoas de um continente ainda a sangrar fruto de sistemas de dominação onde pontificam a escravatura dos negros para as Américas, colonialismo aos dias do apartheid, para depois perdoar.
Perdoar e transformar os seus inimigos em adversários políticos de uma época manchada de equívocos, em que a intolerância racial e política dominaram décadas, sem dó nem piedade uma sociedade que apenas desejava ser livre.
Depois de 27 anos preso por instigar a luta armada como única forma de mudar o status quo, o jovem nacionalista revolucionário Nelson Mandela, quando liberto deu lugar a um outro.
Mais comedido, mas politicamente mais incisivo, capaz de conectar princípios doutrinários de inclusão racial, social e política numa socidade dividida e racialmente antagonizada, substituindo –a por uma sociedade moderna e harmonizada sendo hoje um referencial de coabitação racial e democrática.
O timing era diferente. O discurso de Mandela liberto surge e com ele o apartheid morre, porque na essência não poderia haver compatibilidade existencial entre ambos.
Nelson Mandela levou os sul-africanos a lavar as as suas feridas com palavras fraternas e de solidariedade que passaram a orgulhar a nação arco íris e a catapultá-lo pessoalmente a um patamar universal.
Depois de Jomo Kennyata , Kwame Kruman, Lumumba, Nyerere,Samora Machel e outros líderes nacionalistas orgulhos de África, Mandela escreve com letras de ouro a sua abnegação pela dignidade dos sul-africanos, nos meandros de uma simbiose que aos africanos determina recantos mais preciosos da luta continental pela sua afirmação política e económica universal.
Nos 27 em que esteve preso, os moçambicanos estiveram com Mandela, assim como com o ANC, porque solidários na luta contra tiranias de regimes opressores como o apartheid.
Ontem como hoje, por força das nossas convicções estaremos sempre do lado da razão; Sempre ao lado dos direitos do homem, justiça social e política, enquanto outros na pele de democratas votaram contra a resolução das Nações Unidas em 1987 que pedia a libertação de Nelson Mandela.
O peso político de Nelson Mandela é hoje ímpar por ter extravasado contintes e raças , transformado-se em dominador comum em torno dos que vêem a política com a voz aglutinadora de consenos moderados, sem ter de apelar a violência mas à palavra e à consciencia.Tal como o fizeram Mahatma Gandhi ou Martin Luther King.
Palavras palavra simples mas profundas por exigir uma tomada de consciência e tocar no íntimo exigindo justiça. Porque de justiça que se fala quando a opressão e a intolerância falam mais alto.
A Luta continua!
Inácio Natividade