Não sei se alguém a convidou, ou mesmo se foi necessário um convite. Mas o certo é que a dança da minha terra veio e esteve lá. Fiel, sem receio algum, deliciante e sã. Vi-a, e assim como todos os presentes, nesse evento, lancei-me ao seu ritmo e beleza melódica. Dei uns passos do Nhambaro, ritmo que adoro.
As batidas rítmicas das palmas das mulheres e os passos cadenciados despertam todas as veias sensuais com viva agudeza. Vibrei ali, na cadeira onde me sentara, tal moeda saltitante era o meu corpo completo.
Não sei quantas foram as vezes, enquanto ela ali estivera, eu nasci e regressei às gerações anteriores do meu povo, vivendo absorto sem ódio, num ambiente em que estas danças não podiam se exprimir, sem perseguições, nem vis artimanhas perpetradas, no intento único de a estrangular e exterminar. Recordei-me, num breve segundo, vagueando pela história do meu país, de quão horrorosos foram, então, aqueles períodos em que, culturalmente, fomos ninguém.
Ah! A dança da minha terra. Não veio para aquele local acabrunhada e nem tímida, com receio de se exprimir com plenitude, característico do tempo antes da nossa independência. No tempo colonial era-lhe reservada apenas o pseudo, mas também humilhante direito de se legitimar nesta sua pátria de origem, apenas como mera manifestação folclórica dos indígenas. Leia mais…