Os pais de Laura, Dulce e João, nomes fictícios, não se deram conta, logo à nascença, que os seus bebés nasceram com dois órgãos genitais. Foi ao decorrer do tempo, à chegada da puberdade, precisamente, que os sinais ficaram evidentes.
Uns tinham um órgão masculino e feminino, em simultâneo, e menstruavam, outros tinham um órgão feminino e masculino, mas não menstruavam. Eram, na verdade, acometidos por uma doença designada Disorders of Sexual Development, que em tradução livre significa Alterações de Desenvolvimento Sexual. Eles, porém, não são uma excepção. Há mais bebés, crianças e adultos assim no país.
Até então, mais de 60 pacientes foram operados para a rectificação deste problema que resulta de malformações congénitas. As mãos da proeza pertencem ao urologista da cirurgia reconstrutiva, Igor Vaz.
Na verdade, ele, o Doutor Igor Vaz é, até então, o único médico moçambicano que faz estas intervenções cirúrgicas que são uma salvação para quem sente vergonha de se ver a nu ao espelho, despir-se diante dos outros; tem a auto-estima na “lama” e prefere ficar na “sombra” por temer que a sociedade aponte-lhe o dedo e impute-lhe a culpa pela condição que não escolheu ter.
A DESCOBERTA
Laura tinha 13 anos quando interpelou a mãe para contar-lhe que via algo diferente nos seus órgãos genitais que as demais meninas, com quem brincava, em Inhambane, não tinham. “Minha mãe achou que não era nada grave e que, com o tempo, um dos órgãos pudesse desaparecer… enganou-se”.
A cada dia, mês e ano que passavam as inquietações da Laura só cresciam e uma dor atormentavalhe a alma. O órgão masculino também começava a desenvolver-se mais, o que fê-la, inclusive, motivo de piada entre as amigas. “Gozavam-me e diziam que não era igual a elas”.
Dentro de uma espiral de tristeza, primeiro pelas perguntas que não conseguia responder a si própria e, depois, pelo bullying que sofria, Laura, que era antes muito brincalhona e animada, fechou-se. Leia mais…
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