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Mortos, nenhum, cadáveres muitos

Por António Barros

Uma viagem necessariamente inadiável, e como se não bastasse, informada em fim de dia, véspera da inauguração do esperado Clube Copacabana, por isso dia de festa, de comemoração, pelo que o velho Abarros havia carregado o seu camião, no dia anterior, para que de madrugada, ou o mais cedo possível, pudesse chegar a Maganja da Costa e tivesse tempo de sobra para descarregar o camião e, na maior margem, regressar calmo e sereno para Macuse, de modo que à noite, no baile da Copacabana, pudesse dar largas ao seu dote de exímio dançarino. Assim programado, assim acontecido em termos de saída.
Eram 5 horas da manhã quando o camião carregado de sacos de sal e outros produtos esguinchou por uns instantes após o qual rosnou na explosão definitiva do arranque do motor, após o aquecimento da praxe, engrenaram-lhe a primeira, e na subida da embraiagem estremeu, mas aguentou-se e seguiu viagem.
Enquanto ia circulando pela vila, todos os acordados ou em vias, cada um no seu quarto, num gesto quase automático, olhavam para o relógio ou despertador, para confirmar a que horas o camião e o dono partiam, sabido em toda vila, que era o velho Abarros que seguia para a Maganja da Costa com o fito de regressar, naquele mesmo dia, para o baile do ano onde, para o efeito, havia convidado o conjunto “os Cometas de Quelimane” para abrilhantá-lo. E era também unânime que, indo a essas horas, regressaria, com toda a certeza, a tempo de participar no baile tão esperado. Leia mais…

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