Certo dia, a Verdade entendeu sair para um passeio. Fazia um calor abrasador e a tão desejada brisa escasseava. Caminhou até ao lago e lá estava a Mentira, toda altiva, a deliciar-se daquela água fresca. “Olá Verdade, a água está uma maravilha, porque não te juntas a mim? Venha, dê um mergulho”, disse a Mentira toda animada.
A Verdade colocou as suas roupas lindas junto às da Mentira e pulou para a água e, finalmente, conseguiu se refrescar. Porém, poucos minutos depois, a Mentira disse que ia encomendar um lanche para ambas ali perto e saiu da água, vestiu a roupa da Verdade, pegou nos seus velhos trajes e pôs-se em fuga.
A Verdade ficou atónita e saiu da água a correr para tentar resgatar a sua roupa. Correu até à aldeia e a Mentira era veloz. Todos viram a Verdade nua e acharam que estava mal da cabeça. “Como é que a Verdade se atreve a circular pela aldeia nua? É uma vergonha!”, disseram.
Infelizmente, até hoje, ninguém liga a mínima para a Verdade justamente por ela andar nua. É só ligar a televisão e encontrar analistas e comentaristas especialistas em todos os assuntos (tudólogos), que são capazes de construir uma Mentira, acreditar nela e jurar a pés juntos que é a mais pura Verdade. E quando se é ex-jornalista, a Mentira veste a roupa da Verdade e esta fica pelada para sempre.
209
Artigo anterior