Pelo menos 133 milhões de dólares estão a ser investidos pelo Governo moçambicano na reabilitação das barragens de Chicamba e Mavuzi, localizadas no interior da província de Manica, no quadro das acções visando aumentar a disponibilidade de energia para as províncias de Manica e Sofala, e alargar a “esperança de vida” daquelas infra-estruturas.
Trata-se de duas barragens velhas, muito velhas mesmo. A de Mavuzi conta com 65 anos e experimentou as amargas diabruras da guerra dos 16 anos. Foi vandalizada a ponto de se impor uma reabilitação durante aquele período conturbado em que o desenvolvimento do país caminhava em “marcha atrás” devido à sistemática destruição de tudo o que pudesse ser útil para a economia nacional.
Quem esteve por perto conta que quase todos os materiais e equipamentos necessários para concretizar aquela obra tinham que se transportados por via aérea porque por terra havia mais emboscadas que vias de acesso, pelo que o empreiteiro limitou-se a garantir o funcionamento básico que perdura até aos dias que correm.
Por seu turno, a barragem de Chicamba já completou 46 anos de operação e nunca beneficiou de reabilitação e, à semelhança da de Mavuzi, funciona com equipamentos que estão fora do prazo, o equivalente a dizer que são obsoletos e mais ninguém produz peças daquelas no mundo inteiro.
Para ser mais exacto, estas barragens só se mantêm em pé por mera “graça divina” pois, e conforme palavras do Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Electricidade de Moçambique (EDM), Augusto de Sousa, “estas centrais constituem um perigo para a vida dos trabalhadores e para as centrais nelas acopladas”.
Repare-se que até os parceiros de cooperação com quem o governo negociou fundos para reabilitar aquelas duas hidroeléctricas, levaram cerca de 10 anos a “mastigar” o assunto, com vaivéns infindáveis, reuniões desgastantes, contas para cá e para lá, porque não compreendiam a pertinência e a oportunidade da execução das obras tão complexas e que requerem avultados investimentos.
Felizmente terminou tudo bem e o dinheiro já está disponível para refazer estas importantes infra-estruturas. O Reino da Suécia, através da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional (ASDI) concedeu um donativo estimado em 300 milhões de coroas suecas (cerca de 47 milhões de dólares americanos), o governo francês, por via da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) concedeu um financiamento de 50 milhões de euros e o KfW, instituição bancária alemã contribuiu com 18 milhões de euros sob a forma de financiamento comercial.
Dada a importância estratégica daquelas barragens hidroeléctricas, o Chefe de Estado, Armando Guebuza, fez questão de dirigir a cerimónia de lançamento do projecto de reabilitação e, em discurso proferido na ocasião, fez questão de sublinhar que “com energia melhoramos a qualidade de vida das populações e desenvolvemos uma vasta gama de projectos de desenvolvimento imprescindíveis para o progresso do país”.
Mas, para tal, e no que se refere àquelas duas barragens, será necessário substituir dois grupos geradores na central de Mavuzi e reabilitar outros dois de também de Mavuzi e de Chicamba, modernizar os sistemas de controlo, protecção e regulação para que as operações dos equipamentos se sejam realizadas com segurança.
Será também necessário substituir todos os equipamentos das subestações incluindo os transformadores de potência, reabilitar a barragem de Mavuzi e respectivos componentes, com destaque para o túnel e as condutas forçadas de água. Também será necessário refazer as comportas, ensecadeiras e as condutas da barragem de Chicamba.
De igual modo, será necessário fazer uma reparação civil das áreas submersas nas duas tomadas de água (de Chicamba e Mavuzi) e ainda reabilitar e asfaltar 14 quilómetros de estrada de acesso à central de Mavuzi e dois quilómetros para Chicamba.
“Adicionalmente, o projecto contempla o fornecimento de um sistema para a operação remota das centrais a partir da subestação de Chibata bem como a instalação de fibra óptica para o sistema de comunicações internas e os pontos estratégicos de operação da rede eléctrica nacional, com particular incidência para a zona centro do país e a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), disse Augusto de Sousa.
Estas obras terão a duração de dois anos e meio e vão permitir que as duas barragens funcionem sem crises durante cerca de 30 anos e aumentem a capacidade de produção de energia eléctrica dos actuais 63 MegaWatt (MW) para 86 MW, quantidade que é suficiente para as necessidades das províncias de Manica e Sofala, cujo consumo actual anda a volta de 96MW. A diferença energética será assegurada pela corrente da Rede Nacional de Energia (REN) adquirida na HCB.
O que anima no domínio da energia é que Moçambique está no “Quadro de Honra” no que se refere ao acesso à energia. O Chefe de Estado fez questão de mencionar esse facto que a todos orgulha. Em 2007, a taxa de acesso à energia eléctrica era de sete por cento. Hoje, esta taxa situa-se em 14 por cento e coloca o nosso país no patamar mais elevado entre os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), cuja média é de três por cento.
Para o Presidente da República, estes avanços inspiram o governo a prosseguir com a electrificação dos distritos pois, por esta via, se rasgam as trevas e se apoia o povo “com este instrumento de combate à pobreza. Este projecto faz parte das intervenções para rompermos o círculo que a pobreza nos faz”, disse.
Se por um lado, o sucesso da electrificação das sedes distritais bate todos os recordes da região, por outro, o governo entende que é preciso fazer com que as energias renováveis sejam massificadas.
“Hoje, 13 por cento da população tem acesso a energias novas e renováveis pelo que devemos intensificar a sua massificação e a produção de painéis solares”, disse.