Arnaldo Salvado (pai), de bandeirola na mão, foi dos primeiros moçambicanos a dar um ar da nossa graça numa alta competição do desporto africano. Na qualidade, então, de fiscal-de-linha participou na direcção da final de um Campeonato Africano de futebol na Líbia, poucos anos após a nossa Independência. Saíu-se bem e regressou como um herói, porque tinha (e)levado o nosso desporto e patamares continentais.
A partir daí, umas ténues tentativas de colocar o nome de Moçambique na montra do desporto africano, na área do dirigismo, com Issufo Camal e Naimo Valigy como Comissários da CAF e mais recentemente Feizal Sidat, não nos conferiram o brilho e nem a autoridade que o nosso “peso específico” no desporto continental merece e justifica.
“OS GALÕES” DO NOSSO BÁSQUETE
Já entrou em cena, há largos anos e com “galões” de mais peso, o basquetebol. Organizamos com muito sucesso provas continentais, já fomos campeões de África de clubes, tanto em masculinos como em femininos.
A chamada África branca, pelo poderio económico, pela capacidade organizativa e outras coisas mais, era onde se centravam as realizações das grandes provas continentais. Os conflitos recentes têm desaconselhado o recurso àquelas bandas e por isso resta o Sub-Continente: África do Sul, com todo o seu poderio, Angola e… Moçambique!
Estamos a provar capacidade organizativa por um lado, e por outro que também já não entrámos para “trocar experiências”. Organizámos bem, mas queremos ganhar.
Quantos outros países africanos motivam os cidadãos, incluem nas suas prioridades ou valorizam este tipo de eventos continentais? Poucos. Daí a recente solicitação feita exigência de organizarmos o Campeonato Africano de Sub 16.
O que é que nos está a faltar neste momento?
Remetendo, por analogia, a realidade desportiva para o dirigismo, falta-nos uma Deolinda Ngulela ou Clarisse Machanguana no dirigismo desportivo a nível continental. Teremos que ter poder na FIBA-África e, porque não, na CAF. No ano que vem estaremos na Fase Final do CAN interno, após termos feito “ajoelhar” um velho rival e amigo que se chama Angola.
Não é aventura colocarmos homens e mulheres capazes, que não se verguem aos desígnios dos “papões” continentais e se imponham como realizadores e não como figurantes.
VENTOS FAVORÁVEIS
Desde logo, a língua. Vamos lá para fora, fazemos um grande esforço para nos adaptarmos ao inglês, francês ou árabe, mas acedemos a que cá dentro e de “mão beijada”, os homens fortes do dirigismo continental nem sequer solicitem traduções.
A hora chegou de participar na direcção de uma forma geral do dirigismo de África. Aníbal Manave já é o Presidente da FIBA-África para a Zona Seis. Um bom exemplo. Mas isso não nos deve satisfazer pois está longe do estatuto que os nossos atletas têm conquistado em campo. E do que o país demonstra quando se abalança a organizar provas continentais.
Chega de consumo interno e de sermos humilhados com apresentações “afrancesadas” dos que nos aparecem como “deuses da FIBA-África”. O nosso lugar já não é o de coitadinhos e só cumpridores das regras nos ditam sem termos praticamente espaço para questionar.
Os ventos favoráveis e o impacto da realização épica do recém-terminado Afrobasket feminino pode ser um forte pontapé-de-saída. Temos, felizmente no basquetebol nacional gente conhecedora e empenhada.
Depois da prata, muito suada, no Afrobasket, a luta deve incidir agora na busca de mais e maiores assentos no dirigismo continental.