TEXTO DE CAROL BANZE
CAROL.BANZE@SNOTICIAS.CO.MZ
A carrinha escolar transitava pela ponte sobre o rio Matola. Nela, adolescentes e jovens. Entre eles, uma menina meiga, de traços finos, destaca-se pela reacção fora do comum: dobrava a coluna e debruçava o tronco sobre as coxas, tentando abrir um “buraco” para esconder o rosto, com a intenção de desviar o olhar da imensidão da água.
A justificação vem, em seguida, na primeira pessoa: “sempre que passava de um lugar com curso de água ou perto das ondas do mar, sentia-me mal. O meu corpo doía…. Era obrigada a baixar a cabeça, para os espíritos não se manifestarem”, diz Naomy, que tinha por essas alturas entre 11 e 12 anos de idade. Vozes vindas de outros planos chamavam-na e tendiam a puxá-la para apartá-la da normalidade.
Fala-se de forças invisíveis, enfrentadas de modo intangível. No caso de Naomy, os resultados dessa contenda foram de alargar o beiço e esbugalhar os olhos. O palco foi precisamente a “casa do Senhor”, na noite do dia 31 de Dezembro de 2018, quando duas réplicas pequenas de palhotas foram queimadas sob justificação de que pessoas “como eu” – diz – que tinham espíritos de curandeiro ficariam livres.
“À meia-noite, queimaram as palhotas e aconteceu algo grave comigo. Os meus espíritos manifestaram-se contra o acto. Dizem que caí e cortei-me, mas não me lembro. Tenho, inclusive, a marca do ferimento. Foi a partir desse episódio que a minha mãe passou a acreditar na minha condição”, ao mesmo tempo que “a minha vida entrou para uma fase crítica”. Leia mais…