O Governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, afirmou semana finda na província de Maputo que o país está a registar transformações estruturais profundas, associadas ao processo de exploração de recursos naturais não renováveis, nomeadamente carvão e gás.
“Após vários anos de consolidação da paz e de reformas bem sucedidas em vários domínios, a estabilidade macroeconómica e do sector financeiro permite ao país concentrar-se no novo ciclo do seu desenvolvimento com renovado optimismo”, disse.
A exportação de carvão, iniciada em meados de 2011, conheceu forte crescimento em 2012, traduzido na arrecadação de receitas avaliadas em 435 milhões de dólares americanos, fazendo com que este recurso assuma a segunda posição nos produtos de exportação do país.
As transacções financeiras envolvendo activos representados pelos recursos naturais localizados em solo moçambicano geraram receitas para o Estado sob a forma de impostos de mais-valias num montante significativo.
Dados disponibilizados pelo Banco de Moçambique (BM), ainda com vista a ilustrar o impacto da exploração dos recursos naturais, indicam que o país tem convivido, nos últimos cinco anos, com uma inflação média de um dígito, com a paticularidade de nos últimos três a mesma ter sido inferior a seis por cento, “o que propicia expectativas optimistas em relação ao futuro dos negócios dos agentes económicos nacionais”.
AUMENTA
CONFIANÇA DOS INVESTIDORES
A confiança dos investidores na economia moçambicana tem aumentado, o que pode ser testemunhado pela captação de grandes somas do investimento privado, que no ano passado ultrapassou a fasquia dos cinco mil milhões de dólares americanos.
Com efeito, o investimento directo na indústria extractiva já representa 30 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano, pelos dados de 2012, contra cinco por cento no período de 2000 a 2008.
“A nossa geração tem em suas mãos a oportunidade histórica de, com o início da exploração dos recursos naturais, relançar a actividade económica de Moçambique para níveis robustos, sustentada numa maior diversificação da base de produção e das exportações e que, a prazo, contribua para acelerar a geração de emprego e de renda para milhares de famílias moçambicanas, bem assim a redução da dependência externa”, referiu Ernesto Gove.
Segundo Gove, a curto prazo, o investimento associado a estes empreendimentos continuará a agravar a conta corrente do país, como resultado da importação de maquinaria e equipamentos diversos, bem como da contratação de serviços especializados, sem contar que estes empreendimentos requerem um grande investimento público em infra-estruturas e logística de escoamento, o que inclui a disponibilização de energia, a melhoria da rede de estradas, pontes, portos e caminhos-de-ferro, entre outros.
Com efeito, as estatísticas da balança de pagamentos moçambicana mostram que o défice da conta corrente, que era de 13 por cento do PIB em 2009, incrementou para 36 por cento em 2012.
Mesmo excluindo o efeito directo dos grandes projectos, constata-se que os sectores tradicionais e o Estado têm vindo a aumentar os níveis de investimento, sendo que parte significativa tem procurado assinaláveis importações, o que se reflecte na nossa conta corrente.
“Temos a certeza de que a exploração de recursos naturais coloca à gestão macroeconómica do país, incluindo as políticas sob a responsabilidade do banco central, importantes desafios. Com efeito, o influxo de capitais injecta, na economia doméstica, moeda adicional, elemento a tomar em conta na programação macro financeira e na calibragem dos instrumentos de que dispomos para regular a liquidez, em estreita articulação com as políticas e instrumentos fiscais e orçamentais”, disse ainda o governador do Banco de Moçambique.