- domingo conversou com a menina Nórcia que não tinha órgão genital, bexiga e uretra
Bento Venâncio
bento.venancio@snoticias.co.mz
Hoje, com 15 anos de idade e frequentando a décima classe, Nórcia sonha em ser médica. A sua paixão pela Medicina resulta do reconhecimento do trabalho realizado pelos médicos que a trataram, que não pouparam esforços para que ela sobrevivesse a duas cirurgias para a reconstrução do seu órgão genital. Sim. Ela nasceu sem vagina, uma doença rara conhecida por síndrome de Rokitansky, condição caracterizada pela ausência ou desenvolvimento insuficiente dos órgãos genitais internos: tubas uterinas, útero e canal vaginal.
Desde tenra idade, vive no meio desta realidade difícil. A sua mãe, Júlia Jaime, hoje com 36 anos de idade, conta-nos a história da menina: “Foi tudo complicado, dramático, para mim. Eu tinha apenas 21 anos de idade quando Nórcia nasceu. Na altura, não tinha muita experiência como mãe. Talvez isso justifique o facto de ter reagido tarde aos acontecimentos. Foi duro passar por aquelas situações todas”. Visivelmente emocionada, continua: “a menina tirava urina todo o momento.
Eu não sabia de onde vinha a urina, porque não vislumbrava o órgão sexual dela. Foram momentos angustiantes vividos sem qualquer esperança de tratamento e cura, pois até aos seis meses de vida ela continuava com este problema”.
Na altura, Nórcia e Júlia viviam na província de Gaza, Sul de Moçambique. Passou por vários centros de saúde, mas sem diagnóstico, muito menos para tratamento correcto para uma doença então desconhecida para muitos. “Os médicos que me atenderam pura e simplesmente estranhavam aquilo e receitavam-me xaropes que não produziam o efeito esperado. A minha filha tinha fraldas molhadas todo o momento. Sofria bastante. Chorava”, recorda. Desesperada e desolaLeia mais…