“O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer a sepultura e faz subir. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó.” 1Sm 2:6
Seja-me permitido compartilhar convosco o meu sonho. É que foi um sonho, tão esquisito e tão real, mas que corrobora o princípio enunciado no século XX pelo pai da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud, comprovado cientificamente em 1989 pelos cientistas da “Universidade Rockefeller”, dos E.U.A., Constatine Pavlides e Jonathan Winson, na base do qual (principio) os sonhos não são fenómenos sobrenaturais, mas sim derivam da psique humana, ou seja, que o que fazemos de dia se pode reflectir de noite nos sonhos. Equivale isso a dizer que, se uma pessoa teve de dia uma experiência marcante, a chance dessa experiência entrar noseu sonho é muito grande. Foi o que sucedeu comigo. Através da leitura exaustiva do livro ”Nas Mãos de Deus”, deixei-me levar para um lugar de ambiente indiscernível e inimaginável. Foi a última filha da filha da minha sogra que ofereceu-me como prenda um exemplar do Livro da escritora Paulina Chiziane de parceria com Maria do Carmo da Silva com o título “Nas mãos de Deus”, com a determinação de que eu não devia interromper a leitura, ou seja, que eu devia ler até ao fim do romance,porque ela assim o fez em três horas, depois do que iria ver o que haveria de acontecer. Com efeito, ela que é fã da escritora ficou muito impressionada com o conteúdo ao ponto de me contagiar. Assim, seguindo o seu conselho me predispus a ir até às “Mãos de Deus” e, após umas cinco horas consecutivas de leitura concluí as 198 páginas. Tendo começado a leitura às vinte e uma, da quarta-feira, concluí por volta da uma hora da quinta-feira, e depois de uma breve vigília, caí num sono profundo. E, como durante a leitura penetrei no mundo da escritora, acredito que foi por isso que tive esta lucubração que desejo compartilhar convosco. Logo após apanhar sono comecei a ter um sonho, qual “José do Egipto”. Sonhei que tinha morrido. Sabemos que desde os primórdios da Civilização, a morte é considerada um aspecto que fascina e, ao mesmo tempo, aterroriza a Humanidade. E eu aí estava: Morto. Encontrava-me numa grande Pradaria ou coisa parecida, perante uma enorme plateia composta por gente de idades e género indefinidos. Sentados, não me lembro se nas poltronasou nos tapetes em bancos ou a flutuar num fluido, só lembro-me que todos estavam sentados, vestidos e revestidos de túnicas brancas. Tanta gente do mesmo nívele do mesmo género indefinido. Todos tinham a mesma aparência: Nenhum era mais gordo que o outroe não era possível distinguir-lhes a sua estatura pois estavam sentados a escutar o que eu lia.Eu conseguia ver a todos e eles também me viam. Era um mar de gente sem fim, de pescoço esticado para frente atentos a escutar a minha leitura. Eu “desfiava” e lia uma espécie de papiro, página por página. “Irmãos, – lia eu em voz alta – porquê é que nos matámos uns aos outros, se um dia todos morreremos? Sim, Porquê e para quê infligir morte dolorida aos outros se um dia também morrerás? Para quêmatar um irmão a tiro, porquê envenenar,porquêsequestrar e matar outros àfacadas, porquê encurtar os dias ao outro se foi a mãe natureza que os deu? Não sabes que enquanto estiveres vivo jamais terás sossego pois, a sombra do morto irá perseguir-te o resto da tua vida? Ninguém neste mundo escapará a esta realidade. Porqueéimpossível viver para sempre. Não é fácil pensar sobre a própria morte e nem a ideia de encará-la, mas a morte é inevitável e inadiável.
Nascemos, crescemos, constituímos família e um dia morremos.É o ciclo da vida,renovando-seconstantemente. As crianças nascempara a perpetuação da espécie. Transmitimosaos nossos filhos todos os valores que recebemos dosnossos pais, aparando arestas que julgamos convenientes na tentativa de torná-los melhor do que um dia fomos, mas, todos nós morreremosum dia.A morte éuma longa viagem que um dia todosnós iremos empreender. A vida passa e num piscar de olhos morremos. Só fica o que fizemos. Isso é perpétuo. Ao passo que a riqueza, a fama, a prepotência, a vaidade, a vingança, a maldade, a perfídia, a perversidade, a arrogância, a mentira, a calúnia, a valentia, o orgulho, o ódio, a inveja, o vício o roubo, enfim tudo isso, reduzir-se-á em esqueleto que com o passar dos anos passará a simples pó. Podemos viver uma longa vida, mas devemos viver lembrados que a qualquer momento podemos falecer.Cada um pode fazer o que quiser desde que não prejudique os outros! Quem conhece a morte, aprecia a vida.Todosos dias uma parte de nós abandona a nossa curta existência e… descobrimos que há um diadestinado para morrermos. Então, porquê é tão difícil aceitar que um dia não mais existiremos,tão difícil admitirmos queo ser humanonão é o centro do Universoe que um dia seremos lixo!?”.
Eu lia tão alto para todos ouvirem, sem auxilio de nenhum microfone. Era uma espécie de pergaminho sem começo nem fim. Eu não estava sentado nem de pé. Estava exactamente ao mesmo nível com as entidades a quem eu lia ou falava. Dei conta de que eu falava ou lia passavam muitas horas. Finalmente parei e no mesmo instante despertei. Passava das oito da manhã. Eu que diariamente levanto-me as quatro para fazer a minha caminhada matinal estava ali estatelado e confuso. Os meus familiares de semblante triste rodeavam o meu leito. Explicaram-me que andei delirando e agitado a partir duma determina hora da madrugada e não conseguiam despertar-me. Foi necessário aplicar-me um analgésico para ficar calmo. O sonho era tão real que quando despertei, lembrava-me perfeitamente e continuava a sentir o aroma e os pormenores do lugar onde estivera durante o sonho: um lugar indescritível. Do que não me lembro é se o lugar era na terra, no ar ou debaixo da terra. Penso que, durante o sono por influência do Livro da Paulina fui parar nas “Mãos de Deus”. O Livro ajuda-nos a compreender que a morte está sempre mais próxima de nós e por isso, nenhum ser humano conseguirá sair da vida vivo! Aliás, Confúcio,antigo filósofo chinês, resume a vida na seguinte frase:“Aprende a bem viver e bem saberás morrer!”.O também espirita e professor Brasileiro“Richard Simonetti”diz no seu Livro “Quem tem medo da morte”que “O ideal é estarmos sempre preparados, vivendo cada dia como se fosse o último, aproveitando integralmente o tempo que nos resta no esforço disciplinado e produtivo de quem oferece o melhor de si em favor da edificação humana. Então, sim, teremos um feliz retorno à pátria espiritual.”.Então já agora, que sabemos sermos todos cadáveres ambulantes, porque não partilharmos os nossos bens, as nossas riquezas, as nossas alegrias e as nossas tristezas!? Estamos juntos!