POR LO-CHI
Chove. Oiço atentamente a música que a chuva produz, quando de encontro ao pavimento ou as pedras da calçada. E, nessa audição, recordo o som que essas gotas de prata produzem, em plena cobertura de zinco ou de colmo. É um lamento feito de nostalgias, cheias de claves pungentes, lâminas dilacerando o nosso ser receptivo a essa música, composta de notas dolentes que só elas podem fazer semelhante sonata que abreviava as minhas horas de vigília, naquele magnífico bairro da minha infância.
E nessa infância despreocupada e cheia de alegria infantil, eu e os amigos cantávamos, num ritmo sem compasso, uma música que nos enleava. Cantávamos os dias de chuva, porque a sabíamos construtora de piscinas, feitas em ventres dilacerados da terra, que eram o cadinho desse metal friamente liquefeito, cujo aprisionamento proporcionava-nos largas braçadas. Por isso, debaixo da chuva, cantávamos a presente e a futura alegria. Contudo, era uma alegria cortada de vincados receios de sermos admoestados pelo banho no chuveiro das grandes alturas, ou nas futuras e vindouras piscinas. Leia mais…