Todas as semanas, para não dizer todos os dias, são divulgadas notícias sobre obras mal executadas, sobre obras não concluídas. Obras do Estado, obras destinadas ao Estado. Umas vezes por
desonestidade dos construtores. Que recebem parte ou a totalidade do dinheiro da adjudicação e que depois desaparecem sem executarem o trabalho. Outras vezes, por incompetência dos mesmos, dos ditos construtores. A última das notícias do género, que parece ser exemplar, chega-nos de Manica. Está publicada n edição da passada quarta-feira do jornal “Notícias” (Página 4). Sob o título Má qualidade das obras preocupa governadora, o matutino de Maputo começa por escrever que A governadora de Manica, Ana Comoane, afirmou há dias não estar satisfeita pela qualidade das obras de construção da sala de conferências do Governo distrital de Manica, edifício que na sequência desta situação trocou três empreiteiros, mas ainda assim não está concluído e não atingiu a perfeição desejada, de acordo com o desenho arquitectónico do empreendimento. Convenhamos que três empreiteiros para realizarem um trabalho que parece ser de mera engenharia civil, são demasiados empreiteiros. Ou que, por hipótese, em Manica não existem empreiteiros com um mínimo de qualificações. Poderão existir, isso sim, biscateiros. Sem um mínimo de qualificações. Segundo a notícia, a governadora terá dito (…) terem passado pela obra dois empreiteiros, os quais acabaram sendo desqualificados por manifesta incapacidade de concluir s obras a tempo e com a necessária qualidade. Ainda segundo a notícia a que nos estamos a referir, Esses empreiteiros, todos nacionais, segundo ela, viram os seus contratos de adjudicação rescindidos, tendo sido contrato o terceiro, que neste momento está empenhado na correcção dos erros graves cometidos pelos anteriores construtores. Para que fiquemos claros sobre o tipo de empreiteiros que existem pelas bandas de Manica, aqui reproduzimos mais um naco de prosa inserida no “Notícias”: Para além da remoção dos aros de portas e janelas, reparação do soalho, dos rebocos e de outras intervenções com vista a conferir qualidade na obra, a governadora de Manica disse que os empreiteiros nem mesmo conseguiram reproduzir integralmente, as características da planta do edifício. Ainda segundo a notícia, a governadora de Manica Afirmou que tais características, que reconheceu serem complicadas, acabaram complicando cada vez mais a engenharia dos empreiteiros, acto agravado pela ineficácia técnica destes e da sua gritante falta de criatividade. Quer dizer, até aqui tratou-se de dois grupos de biscateiros contratos pelo Estado. Como se fossem construtores devidamente qualificados e devidamente credenciados. Que parece que não eram. O que é mau. O que é um mau exemplo que é dado pelo próprio Estado.
Naturalmente, situações do género, situações semelhantes não acontecem só na província de Manica. Abundam por aí à desbunda. O que parece estranho, o que se apresenta como estranho, é o facto de empresas sem um mínimo de qualificações ganharem concursos públicos para a construção de obras do Estado. Pagas com dinheiro de o Estado. Seria interessante saber como são feitos os concursos públicos para a adjudicação destas obras. E se as mesmas são, efectivamente, adjudicadas a quem tem competência técnica e financeira para as executar. Pode acontecer que não. Pode ser que sejam, simplesmente, adjudicadas, ao primo ou à prima, ao cunhado ou à cunhada, à amante de. A governadora de Manica já foi longe. Mas é preciso ir mais longe na investigação.