A queda dos preços de produtos como tomate, repolho, banana, no Mercado Grossista do Zimpeto, cidade de Maputo, condiciona o alargamento dos campos de cultivo no distrito de Moamba, Maputo.
Mesmo assim, a administradora acredita que aquele ponto do país poderá voltar a ser considerado celeiro da província.
Uma caixa de tomate está, actualmente, à venda aos revendedores, no mercado do Zimpeto, a preços que variam entre 5 e 50 meticais, contra os anteriores 150, valores considerados muito baixos pelos agricultores. A caixa pesa em média 22 quilogramas.
Como revelaram à nossa Reportagem, com os actuais preços os agricultores não estão em condições de garantir vários serviços, como pagamento do transporte do local de produção para o mercado, aluguer dos tractores, compra de fertilizantes e insecticidas, pagamento dos trabalhadores eventuais que ajudam na limpeza e recolha das culturas, entre outras despesas.
Recorde-se que um tractor usado para lavrar os campos custa 800 meticais por hora de trabalho e um carro com capacidade para transportar três toneladas de Moamba para Zimpeto cobra quatro mil meticais.
Esta situação é vista como sendo um factor que inviabiliza os projectos dos agricultores que pretendem apostar na produção de comida para o país deixar de depender de importações.
Como relataram os agricultores, o facto de muito destes agricultores terem contraído dívidas com os bancos é preocupante e, com este cenário, temem que venha a acontecer o pior, uma vez que não estarão em condições de honrar com os seus compromissos.
Aliás, em conversa com um dos agricultores, Carmona Daia lembrou que em Dezembro passado passou por um constrangimento similar: solicitou um crédito para investir na produção de hortícolas e, quando chegou a altura de colheita, os preços foram desanimadores.
No banco disseram-me que só queriam o dinheiro porque é o que tinham dado de empréstimo; até chegaram a dizer que o banco não vendia tomate, nem repolho…só dinheiro, contou.
Daia disse que depois daquela resposta foi obrigado a fazer uma série de manobras para juntar o dinheiro e pagar as letras.
Facto testemunhado pela equipa de Reportagem do domingo é que em consequência desta situação muitos agricultores preferem deixar a produção no campo ao invés de leva-la ao mercado de Zimpeto.
Aqueles produtores alegam que a sua ida ao mercado grossista apenas acarreta prejuízos, uma vez que têm de pagar o transportador e vezes há que acabam regressando com enorme excedente por falta de compradores.
Entretanto, outros agricultores ainda têm experimentado reduzir as áreas de produção de algumas culturas como repolho e no seu lugar ensaiam outras como batata-reno, assim como novas variedades de tomate.
COMO SAIR DESTA SITUAÇÃO
O presidente dos agricultores do Bloco I, Carmona Samuel Cecília Daia, entende que para fazer face a esta situação seria necessário que os Ministérios da Indústria e Comércio e da Agricultura definissem novos mecanismos de comercialização dos seus produtos.
Para Daia, caso a situação se mantenha assim, as orientações dadas aos camponeses poderão não dar os resultados esperados. As indicações consistem em despender mais esforços de forma a aumentar a produção agrícola e garantir a segurança alimentar.
Se continuarmos assim ao invés de sermos camponeses, seremos prisioneiros porque vamos acumular dívidas com a banca e com outros fornecedores,disse.
TOMATE
Mesmo com as preocupações que pairam no seio dos agricultores em relação aos preços, a produção do tomate em Moamba ainda continua em alta nos diferentes campos de cultivo.
Quando amanhece o distrito regista uma grande movimentação de camiões carregados, para além de compradores que “vasculham” as machambas à procura de melhores produtos.
Segundo os agricultores, os trabalhos de recolha e colocação do tomate nas caixas começam de madrugada e só terminam à meia-noite, para logo às primeiras horas do dia seguinte seguir se à estrada para o mercado do Zimpeto.
O trabalho é intenso, até porque nem sempre se consegue levar todo o produto colectado das machambas para o Zimpeto, onde é comercializado aos revendedores.
Falando para o domingo Carmona Daia disse que por semana tira da sua machamba cerca de cinco camiões carregando 300 caixas de tomate para o Zimpeto.
Mesmo assim, a fonte considera que a quantidade é pouca por aquilo que vem fazendo no seu dia-a-dia. Se os preços do Zimpeto fossem encorajadores, acreditamos que a produção seria melhor do que esta, visto que no campo as condições estão criadas.
Daia é um dos produtores de Moamba e conta com cerca três hectares de tomate, dois de pimento, mais outros tantos de outras culturas como de batata-reno e banana.
Actualmente o sistema de rega dos campos socorre-se de motobombas mas, como contou o Presidente da Associação dos Agricultores do Bloco I de Moamba, brevemente este sistema será modernizado, passando-se a usar um sistema eléctrico de rega.
Luísa Sigaúque, outra agricultora de Moamba, disse que por semana vende 20 caixas de tomate. Trabalha sozinha uma área de um hectare onde, para além de tomate, produz repolho, alface e cenoura.
A nossa entrevistada revelou que o seu desejo é aumentar os campos de cultivo mas os custos aplicados na venda do produto e aluguer de tractor abrandam o plano.
Sigaúque disse ainda que o que ganha da produção serve para suportar as despesas de casa e de escola para as crianças.
Entretanto, uma praga ainda não identificada tem vindo a estragar a produção de tomate em Moamba. Os agricultores estão neste momento preocupados com a situação e dizem que é difícil explicar a origem da mesma, uma vez que ela ataca todas variedades de tomate.
REABILITAR REGADIOS
A Administradora do Distrito de Moamba, Maria Ângela Manjate, disse que acredita que o distrito poderá voltar a ser considerado celeiro da província de Maputo, uma vez que existem em abundância condições agroecológicas e hidrológicas. Actualmente o distrito produz e comercializa cerca de 600 toneladas de produtos diversos.
Para o efeito, segundo Maria Àngela, será necessário reabilitar todos os 5 regadios, dois na vila-sede e três em Sábiè.
Adiantou ainda que os regadios da vila-sede poderão ser reabilitados até finais de 2014. A demora deveu-se essencialmente à falta de fundos, mas há indicações de que esta dificuldade está prestes a ser ultrapassada.
Ainda não alcançamos os níveis de produção que desejaríamos ter, mas estamos felizes pelo facto de não termos bolsas de fome e insegurança alimentar. Podemos fazer mais. Se todos os regadios entrarem em funcionamento acreditamos que poderemos deixar de depender da África do Sul no fornecimento hortícolas à província e cidade de Maputo, disse Maria Ângelo.
Num outro desenvolvimento deu a conhecer que foram reabilitados alguns frigoríficos para conservação dos produtos agrícolas do distrito, sobretudo a batata-reno.
Pretendemos, com estes frigoríficos, que têm capacidade de 400 toneladas, conservar os produtos, sobretudo no momento de pico de produção, mas o ideal seria a construção de uma indústria de agroprocessamento, concluiu.
Abibo Selemane