POR LO-CHI
“As formigas do Tavinho e outras recordações” é o livro do professor e escritor Almiro Lobo, composto por 14 textos, riquíssimos de informação do passado. Os cinco primeiros textos, desde o que dá nome ao livro até ao “Mangueira sagrada”, ocupam-se daquele espaço temporal infanto-juvenil, onde as escolas, primária e secundária, constituem o palco principal. Não se esquecendo, todavia, de falar da sua relação com os animais (quer domésticos bem como formigas, ofídios), das futeboladas, das férias no Luabo, e aí as caçadas aos passarinhos, o extasiar-se nas lambuzadas ao melaço da Sena Sugar Estates. Histórias outras que vão decorrendo em uma série de lugares: Chinde, Luabo, Mocubela; falando das suas vivências, especificando lugares como a escola, o lar (Sagrada Família), a mangueira sagrada, isso já no nível secundário especificamente na cidade de Quelimane.
Um dos elementos que a estilística diz compor a escrita literária e que se encontra majestosamente presente nesta escrita do Almiro Lobo é o detalhe descritivo. E, no texto “Feijão macaco”, as maldades de infância que são aqui reveladas, desde o matar passarinhos, colocar feijão macaco na secretária do professor, para fugir das aulas ou exercícios de avaliação. Ao referir-se a este último facto, ele detalha a descrição com uma beleza e harmonia especial. Note-se neste trecho, onde, descrevendo a expectativa ansiosa, um estado psicológico, ele fá-lo através dos seus sinais somáticos: “O professor exibia um sorriso cínico e triunfante e fingia, nalguns instantes, que se ia sentar. Aí a respiração da turma continha- -se. Congelava. Os olhos agigantavam-se, quase explodindo nas órbitas. As batidas do coração disparavam. Ribombavam como tambores, estereofónicas. Os gestos petrificados a meio caminho, suspensos. Os músculos entesavam, os nervos à flor da pele. Quase que se viam as veias a latejarem. O silêncio pesado contrastava com o habitual burburinho e era isso que denunciava a maquinação.” Os detalhes são dados com os pormenores tão plasticamente descritos qual um quadro vivo e dinâmico. Leia mais…