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Revanche do escritor

Por Jornal domingo

POR LO-CHI

O perigo maior está quando se provoca um homem das letras. Diferentemente do jagunço, ele não dispara; ele escreve. Um amigo meu, escritor, tem um conhecido, que por qualquer motivo sente uma invejazinha da vida que o escritor leva e, não obstante a recorrência alta de solicitação de favores, como um bom invejoso, meia-volta fala mal do outro. E como é de praxe as maldicências da parte do seu conhecido com alguma frequência chegam aos seus ouvidos. Porém, quiçá por nutrir alguma inata simpatia pelo sujeito, sempre foi relevando aquilo que ele designava de pequenas falhas humanamente compreensíveis.

Um dia, porém, chegou-lhe aos ouvidos uma que lhe encheu as medidas. “Essa não fica sem troco!” Prometeu. E o quê o escritor sabe melhor fazer? Escrever. Escreveu destilando raiva e veneno. Pegou num personagem que foi matutando e dando forma com as características mais vilipendiantes, atribuiu-lhe umas qualidades irrelevantes, baptizou-o com um nome que não lembrava nem ao diabo, foi desenhando as formas físicas quase horripilantes, deu-lhe vida e integrou-lhe como protagonista, numa história esdrúxula de uma tremenda verosimilhança, ou mesmo se distraídos, poder-se-ia dizer que um autêntico decalque de uma ocorrida com o tal do fofoqueiro, cuja, ele remetera nas profundezas do esquecimento, selando com a pedra da amnésia voluntária. O nosso escritor, com a buldozer da raiva revanchista, removeu a pedra da amnésia e pôs a história no papel. Completada a mesma, passou a burilá-la com uns tropos jocosos aqui e acolá umas adjectivações sarcásticas e outros mimos à medida que deram a pedra toque ao texto. Completada, imprime e manda por um portador, com a expressa recomendação de entregá-la pessoalmente. Orientação seguida, o escritor é avisado da recepação em mão própria do destinatário. Leia mais…

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