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Chire: a ponte que transporta o crime*

Por Idnórcio Muchanga

POR ANTÓNIO BARROS

Morrumbala. A partir daqui, o rio Chire estende o seu caudal, percorrendo sempre a linha limítrofe entre os dois países, por Pinda, Chire, Megaza, ainda em Morrubala, indo desaguar no distrito de Mopeia, onde se encontra com as águas do grande Zambeze. A largura do rio, estimada em menos de cem metros lineares, é considerada “terra de ninguém”, nome que vulgarmente serve para caracterizar o espaço de ocupação incerta, existente entre as fronteiras de dois países.

Assim, as populações dos dois países consideram o Chire um património comum e usufruindo uns e outros de todos os seus recursos. Crianças do Malawi e de Moçambique banham-se nas águas. Homens do Malawi e de Moçambique pescam nas mesmas águas. Nelas buscam água para o seu consumo. As machambas de milho, existentes de cada lado, ao longo das margens do rio, são fertilizadas pelas suas águas. Todo este quadro de convivência e actividades conhece uma prática tradicional, tão antiga, como a idade do próprio rio: mulheres do Malawi atravessam regularmente o rio, para do lado de cá moerem o seu milho nas nossas moagens, em Megaza.

A afinidade linguística baseada na língua Sena, falada pelas populações da zona fronteiriça dos dois países, facilita a aproximação e o entendimento entre as duas partes. Há hábitos e práticas sociais gémeas, como, por exemplo, canções de pescadores que são comuns nos dois lados. A solidariedade existente entre as duas populações é muito antiga. Usando as mesmas vias, o sal de Moçambique atravessa o Chire para condimentar os pratos malawianos. De igual modo, os padrões das capulanas do Malawi são muito comuns entre as mulheres do lado moçambicano. Leia mais…

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