“ Não tenho a mínima dúvida de que do mesmo modo que já houve o Século Branco, o mundo terá que ter um dia o Século Negro”, Giovanni Papini, in A Vigia do Mundo ou La Spia del Mundo
(1955).
África celebrou ontem, o seu 50º aniversário numa altura em que o FMI e conceituados economistas mundiais, como o norte-americano Morten Jerven, antevêem que nos próximos 40 anos, o continente africano se tornará no principal motor económico do Mundo, dado que corresponderá então ao somatório do que são agora as economias dos EUA e da Europa juntas.
No estudo do FIM, divulgado este ano, vinca-se que as projecções com que se chegou a esta conclusão de que daqui até 2050, ou seja, daqui a 37 anos, África será máquina económica mundial, se fizeram com base no excelente desempenho económico de quase todos os 54 países africanos, com excepção de muito poucos, como o Zimbabwe que está quase no ponto zero, devido à crise política que o afectava.
O estudo realça que no topo dos 54 países, estão sete, entre os quais Moçambique, que há mais de 10 anos têm tido um crescimento anual constante de entre 7 a 10 %. Estes ´´7´´ integram também a lista dos 10 mais do Mundo em que a China é o líder.
Nota-se que apesar da grave crise que abala quase todo o mundo, estes sete africanos continuam imunes e a ter um desenvolvimento que o FMI designa demagnífico, e são Moçambique, Tanzânia, Zâmbia, Gana, Congo, Nigéria e a Etiópia que é onde o presidente Armando Emilio Guebuza celebrou ontem, juntamente com outros estadistas do continente, o jubileu da União Africana.
Os estudos indicam que com a recente descoberta de grandes recursos minerais como o carvão e gás para o caso de Moçambique, estas sete nações irão aumentar ainda mais o seu incremento anual económico médio em pelo menos 6 por cento, o que os fará com que atinjam mais de 10 por cento.
O que deve fazer com que os moçambicanos sejam ainda mais optimistas quanto ao seu futuro próximo, é que com estas descobertas, vislumbra-se que Moçambique e o Gana, que também acaba de começar a explorar imensuráveis jazigos de petróleo junto à sua costa, serão verdadeiras estrelas económicas. Para tanto, estima-se que venham a atingir 16 por cento de crescimento económico daqui a 37 anos.
Estas projecções do FMI e de outras instituições, como o Banco Africano do Desenvolvimento (BAD), e dos tais economistas Morten Jerven e o Chefe do Banco Mundial para Africa, Shantayanan Devarajan, sustentam que o que fará com que África se torne num Motor Económico Mundial, é que a Europa está numa crise irreversível, os EUA num declínio também imparável, mas, acima de tudo, porque este continente tem tudo para acelerar ainda mais a sua já rápida ascensão económica.
Eles apontam precisamente essa abundância de recursos no seu subsolo e águas territoriais como as de Moçambique, que agora se confirmou que detêm grandes reservas de gás, e ainda o facto de que não pára de multiplicar o seu recurso mais importante, que é a sua população.
África é quase o único continente cuja população tem crescido também, ao invés da Europa e dos EUA em que os velhos superam os jovens. Outra vantagem da África é que pela primeira vez está a ter uma cooperação com a Ásia de ganhos mútuos, tal como preconizado pelo antigo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, de que é um processo de dar o que se tem, para se receber o que não se tem. Entre os países asiáticos, o que está a catalisar o crescimento da África, é a China, que, neste caso, é quem financiou e construiu a majestosa nova sede da União Africana em Adis Abeba, onde decorrem as celebrações do jubileu. Para Guebuza, a China é mesmo um verdadeiro amigo da África, conforme vincou semana passada no fim de uma visita de trabalho àquele país.
ESTUDOS DE JERVEN E DEVARAJAN
SECUNDAM TESE DE GUEBUZA
Nos estudos feitos por Jerven e Devarajan sobre o quanto África cresceu economicamente, chegaram coincidentemente à mesma conclusão de que as metodologias que têm sido usadas pelos serviços de estatísticas dos países africanos, são muito ultrapassados. Dizem que por isso mesmo, têm deixado de fora muitos dados que iriam mostrar que muitos dos países africanos tiveram um crescimento ainda maior do que tem sido espelhado.
Com base na reavaliação que Morten Jerven fez em alguns países como o Gana, que estão espelhadas num seu livro, a registar vendas recordes, intitulado Poor Numbers: how we are mislead by African Development Statatistics and what to do about it, diz ter chegado a essa conclusão de que essas metodologias há muito que ficaram ultrapassadas.
Ele como Devarajan provaram já que o que se tem espelhado como seu crescimento real, está muito aquém do quanto cresceram de facto. Devarajan vai mais longe ainda, considerando-as de “Estatísticas africanas trágicas”, porque não reflectem o seu verdadeiro crescimento. Jerven aponta como exemplo, o Gana, em que os seus serviços estatísticos deixaram de fora mais de 13 biliões de dólares das suas actividades económicas de 2010, e que não fizeram parte do seu PIB.
Os dois economistas defendem que muitos dos países em que agora se diz que tiveram um crescimento de entre 7 a 10 por cento, na verdade tiveram muito mais ainda. Esta conclusão acaba, por assim dizer, dando razão a Guebuza, que sempre questionou os dados que, ano após ano, têm colocado Moçambique quase na cauda das listas sobre desenvolvimento das nações do mundo. No caso do deste ano, até a Guiné-Bissau está acima de Moçambique, não obstante seja um dos países mais fracassados, não porque o seu povo é preguiçoso, mas devido a cíclicas guerras e contra-golpes.
Lendo o que diz o FMI, Jerven, Devarajan e outros guros da economia, como Jeferson Suchs, levam-me a concluir que o Século Negro que Papini anteviu, quando o povo africano era ainda tratado como besta para carga, está já próximo.