Cidadãos moçambicanos na diáspora aguardam com enorme expectativa o desfecho do diálogo em curso entre o Governo e a Renamo, conforme referiu o deputado da Assembleia da República
(AR) pelo círculo eleitoral da Europa e resto do Mundo, Rui Sixpence Conzane.
Para aquele deputado, as conversações devem ser conduzidas tendo em conta o quadro jurídico-legal instituído no âmbito da democracia multipartidária e no respeito às instituições apropriadas para o encaminhamento de determinadas preocupações da Renamo, com destaque para o Parlamento e o Conselho de Estado.
Segundo afirmou, os moçambicanos na diáspora têm acompanhado com alguma preocupação os últimos desenvolvimentos em torno da situação política actual, face às ameaças da Renamo de inviabilizar a realização das eleições autárquicas de Novembro próximo e as gerais de 2014.
Para Rui Conzane, os constantes discursos inflamatórios da liderança da Renamo criam pânico no seio da comunidade moçambicana no exterior, com agravante de gerar um espectro de instabilidade e desencorajar os investidores que apostam no desenvolvimento do país.
“Os ataques ocorridos em Muxúnguè recordam as atrocidades da guerra dos 16 anos. Aliás, as pessoas ficam apreensivas sem saber qual é a situação real do país, pelo que apelo às duas partes a ultrapassarem as divergências para que o país continue atractivo para o investimento nacional e estrangeiro”,disse Rui Conzane.
Segundo acrescentou, as atitudes da Renamo de primeiro exigir a mudança do local para, mais tarde, colocar aquilo que chamou de questões prévias, são típicas de quem está desnorteado e sem nenhum rumo.
“A situaçãoé que os pontos prévios apresentados e a mudança da chefia da delegação podem ser estratégia para emperrar os avanços registados na primeira ronda negocial”, disse Conzane, para quem o espaço privilegiado para a Renamo colocar as suas inquietações é o Parlamento e o Conselho de Estado.
Nas linhas que se seguem acompanhe os extractos da conversa:
Senhor deputado está no país numa altura em que os moçambicanos estão expectantes face ao diálogo em curso entre o Governo e a Renamo. Que tem a dizer a esse respeito?
É de louvar a atitude do Governo de aceitar dialogar, porque isso vai trazer alento aos moçambicanos que, em algum momento, ficaram em pânico ao acompanharem más notícias do seu país.
Estamos em paz desde 1992 e, desde então, iniciamos a reconstrução do país e a instituição da democracia multipartidária, o que possibilitou a atracção dos investidores estrangeiros tendo em vista o desenvolvimento socioeconómico do país. Neste contexto, há que preservar a unidade nacional, até porque Moçambique é um exemplo mundial em matéria de preservação da paz. Lamento a colocação, já na segunda ronda, de questões prévias porque isso pode alterar os avanços que provavelmente tenham sido conseguidos na primeira. No entanto, devo ressalvar que no país existem instituições para onde a Renamo, querendo, pode colocar as suas inquietações, como os casos do Conselho Constitucional, Parlamento, entre outras.
Como é que os moçambicanos acompanham o pulsar do país, sobretudo os discursos inflamatórios da liderança da Renamo, que culminaram com ataques a alvos policiais e a civis na região de Muxúnguè, na província de Sofala?
Naturalmente que com algum pânico porque ficam sem saber se os seus familiares estão ou não seguros, ou melhor, se podem viajar ao longo do país livremente e desenvolver os seus negócios. Por acaso tivemos uma reunião na Embaixada de Moçambique na Alemanha que não tinha nada a ver com a situação de Muxúnguè, mas por ser um assunto na ordem do dia, alguém levantou inquietações relativas à situação. O que nós apelamos é que as duas partes, quer o Governo, assim como a própria Renamo, sejam mais abertos nas suas conversações de modo a ultrapassarem as desavenças, porque os moçambicanos não querem guerra, querem a paz para poder viajar e desenvolver as suas actividades livremente.
Face a esses acontecimentos, existe uma percepção generalizada de que a paz está ameaçada ?
Não necessariamente. Mas a preocupação deles tem a ver com a fixação de Afonso Dhlakama em Satungira, pois isso cria algumas incertezas. As pessoas não sabem o que pode acontecer de um dia para outro. Eles questionam se ele está lá para preparar a guerra ou porque está cansado de viver na cidade. Portanto, as pessoas relacionam os recentes ataques à presença de Dhlakama em Gorongosa e ficam com medo.