Brilharam em modalidades diferentes, mas em épocas semelhantes, ambos explanando um talento acima da média. Vítor Morgado, o Molinhas, no basquetebol, “voando” nas alturas, Áchimo Taquidir,
no futebol, crónico meio-campista da Selecção da Zambézia nos anos 60, “tratando” a bola como poucos.
MOLINHAS: SUSPENSÃO
ERA COM ELE
Pertenceu à geração ouro do basquetebol na época de Nelson Serra, Mário Albuquerque, Rui Pinheiro, Sérgio “Macabeça” e o norte-americano Terry Johnson. Um regalo, a turma do Sporting de Lourenço Marques dos anos 60, que deliciava tudo e todos, sobretudo nos duelos frente ao eterno rival, o Desportivo.
Victor Morgado, por uma característica muito própria, recebeu a alcunha de “Molinhas”. Porquê? Mais do que uma grande capacidade de suspensão, ele tinha poder de flutuação. E isso enganava os adversários pois uma vez que já no ar e a caminho do cesto, o Molinhas fazia como que um compasso de espera, o tempo suficiente para as mãos adversárias” seguirem viagem” antes da conversão. Algo quase inédito e espontâneo na altura e que actualmente se trabalha para conseguir.
Juntamente com Belmiro Simango, Cobra, Cezerilo e outros, Victor Morgado foi um dos responsáveis pela manutenção do grande nível no nosso basquetebol pós-Independência, primeiro como jogador, para pouco depois se tornar um excelente técnico. A ele, como adjunto de Luís Cezerilo, também se deve a medalha de ouro feminina obtida nos Jogos Africanos do Cairo.
Doente de há uns tempos a esta parte, o Victor Morgado passou a residir em Portugal, mas sempre em contacto com os mais chegados amigos – destaque para Simango e Amad Mogne – lutando por melhorar para regressar à terra que o viu nascer.
Um desejo infelizmente não concretizado pois a morte enlutou o nosso basquetebol ao levá-lo na semana finda.
ÁCHIMO: FINO TRATO
À BORRACHINHA
Gostava de tratar o esférico por borrachinha, ele que em toda a sua vida teve uma grande afeição pela bola. No Ferroviário de Quelimane evidenciou-se e foi lá que terminou a carreira. Médio franzino, evitava o choque, mas de posse do esférico sabia dar-lhe sempre o melhor destino. De vez quando, havia que contar com a surpresa dos seus disparos para o golo.
Falar de Áchimo Taquidir, é recordar a “plêiade” de inhambanenses – Waide e Abdul Abido são exemplo – que foram para Quelimane no início dos anos 60 e “pegaram de estaca”. Por lá ficaram, constituindo família e tornando-se zambezianos de coração. A veia e o amor ao desporto contagiaram dois dos filhos do nosso personagem: Faruk Taquidir brilhou como médio do Matchedje e a Laila foi uma boa repórter do Jornal Desafio.
Dois homens do desporto partiram. Para trás e na memória sobretudo dos mais velhos, ficam lembranças de actuações em muitas tardes e noites que alegraram e fizeram vibrar multidões.
Neste momento de dor e luto, que envolve todo o desporto nacional, o domingo apresenta aos familiares dos dois malogrados, as mais sinceras condolências.