Os europeus “escolheram”: preferem ficar independentes da vizinha Rússia e aumentar a sua dependência aos EUA, que fica do outro lado do Atlântico. A União Europeia e os EUA anunciaram, semana passada, a assinatura de um acordo que prevê que os norte-americanos aumentem o fornecimento de Gás Natural Liquefeito (GNL) aos europeus. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, considerou o momento um “grande passo” rumo à “redução da dependência” energética em relação à Rússia. A medida, que se insere nos esforços do Ocidente “punir” a Rússia por ter iniciado uma guerra contra a Ucrânia, é, na verdade, uma transferência da dependência de um gigante energético europeu, a Rússia, para outro gigante energético do outro lado do Atlântico, os EUA, curiosamente os protagonistas da supostamente já defunta guerra fria.
No que ao sector energético diz respeito, a Europa é altamente dependente da Rússia. No passado ano de 2021, a Rússia continuou a posicionar-se como a maior exportadora de petróleo e gás natural para a União Europeia, estimando-se que cerca de 30% de produtos petrolíferos e mais de 40% de gás natural consumido na união proveio do país de Vladimir Putin. Dados indicam que, por exemplo, perto de 60% dos produtos energéticos importados pela União Europeia, em 2017, provinham da Rússia.
Para alguns países individualmente, como a Estónia, Polónia, Eslováquia e Finlândia a percentagem de importações de produtos petrolíferos da Rússia dispara para os 75%. O gás natural constitui maior produto energético do qual os países da União Europeia dependem da Rússia tanto para garantir o aquecimento das casas, para a geração de energia bem como para o usar como combustível para o sector industrial. A dependência em relação aos fósseis da Rússia é vista, portanto, como uma ameaça à segurança europeia e foi sempre motivo de discussão na união. Os maiores importadores do gás natural russo são a Alemanha e a Itália que, contabilizando, ambas as duas perfazem quase metade das importações de gás natural pela União Europeia. É, portanto, fácil de perceber as tradicionais hesitações de Berlim alinhar com os EUA no que às sanções económicas contra a Rússia diz respeito. O preço da retaliação de Moscovo no sector energético pode ser demasiado caro. Leia mais…
Por Edson Muirazeque *
edson.muirazeque@gmail.com