A Rádio Moçambique (RM) homenageou na quarta feira o sonorizador Carlos Silva, pelo contributo contributo que deu à radiodifusão moçambicana. Na ocasião, diversas personalidades que tiveram o ensejo de trabalhar com este “mestre” prestaram depoimentos que se transformaram em testemunhos vivos da peculiar vida de Silva.
O Conselho de Administração entregou ao laureado um diploma de honra, um troféu (constituído por uma réplica do rádio Xirico esculpido em pau-preto), uma fotografia do homenageado emoldurada, em preto e branco, tamanho A3, e um relógio de parede com logo da RM personalizado.
Na sua intervenção, o PCA da RM, Abdul Naguibo, destacou as qualidades profissionais e humanas de Carlos Silva, lembrando que “os presentes na cerimónia são testemunho soberano do carinho que Carlos Silva granjeia. Ele é um ícone da nossa radiodifusão. Professor de muitos colegas, entre vivos e já falecidos”. Disse ainda que Carlos Silva produziu vários programas, como Cena Aberta, Uma Data na História, O Significado das Palavras e deu espaço à música clássica. Também criou efeitos sonoros que hoje fazem parte do rico espólio da RM.
Carlos Silva ingressou como telefonista na então Rádio Clube, hoje Rádio Moçambique, há 70 anos (1951). Passou por diferentes sectores, de entre eles o da técnica. Foi nesse percurso que acompanhou o Uma vida dedicada à radiodifusão crescimento profissional de várias gerações de radiófilos, uns reformados e outros já falecidos.
Ele foi o primeiro sonorizador da Rádio Clube de Moçambique e em 1974 criou uma equipa de 15 sonorizadores. Após a independência, Carlos Silva foi obrigado a conciliar, sucessivamente, a sua profissão de sonorizador e a de chefe do Departamento Central de Programas, chefe da Antena Nacional e responsável pela Escola da Rádio, criada em 1981/1982.
Aposentado formalmente há 24 anos (1997), Carlos Silva é considerado por muitos profissionais desta estação emissora uma verdadeira biblioteca e poço inesgotável de conhecimentos. Durante o processo de consolidação da independência, Carlos Silva ajudou, através da Rádio Moçambique, a incutir nos moçambicanos a ideia da nação no período que imediatamente se seguiu à independência do país. Mesmo fora do efectivo, o homenageado continua a produzir programas de referência e com décadas de existência, dos quais destaque vai para o Clássico aos Domingos.
Apesar da cegueira (perdeu a visão em 2015), Carlos Silva continua a percorrer os compartimentos onde se faz radiodifusão na Rádio Moçambique que bem conhece desde os seus 15 anos, dispensando apoio. Recorre às mãos (tacto). Quando recolhe à casa, bem ao lado da RM, tem ajuda de um amigo apenas para atravessar a rua.
Oriundo de uma família bastante modesta, Carlos Silva ingressou na rádio bastante jovem porque, como confessou uma vez, precisava mesmo de trabalhar. O pai era um militar e a família vivia com muitas dificuldades. Carlos chegou a viver numa casa de pobres na Namaacha. Viveu de assistência social antes de se transformar no primeiro sonorizador da Rádio em Moçambique.