Na semana passada, a Rússia elencou um conjunto de exigências em relação à Ucrânia que, vistas de perto, lembram o incidente de 1962, quando a União Soviética instalou mísseis em Cuba, num dos momentos mais tensos da supostamente terminada guerra fria. Na altura, os EUA reagiram ameaçando estarem dispostos a recorrer à força para ver a sua vizinha Cuba “livre” de armas soviéticas. No incidente da semana passada, que na verdade já vem se desenrolando há semanas, foi a vez da herdeira-mor dos soviéticos, a Rússia, alertar que, ela também, poderá recorrer às armas para “se defender”. No cerne da preocupação de Moscovo está a “insistente intentona” da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o braço armado dos EUA, aproximar-se ao território russo. Tanto num como no outro caso, as motivações dos respectivos ultimatos permanecem as mesmas: o medo de ambas potências de que o adversário vai atravessar a “linha vermelha” para a defesa e segurança nacionais.
A Rússia publicou, na semana passada, um conjunto de propostas de pactos de segurança nas quais exige que a OTAN recuse a adesão da Ucrânia e de outras antigas repúblicas soviéticas à organização e reduza os seus efectivos militares e armas na Europa Central e Oriental. Nos documentos, Moscovo exige que lhe sejam dadas garantias legalmente vinculativas de que a OTAN vai desistir de qualquer actividade militar na Europa Oriental, exige que lhe seja concedido o direito de veto a uma eventual adesão da Ucrânia à organização, que os EUA removam armas nucleares da Europa e que tropas da OTAN sejam retiradas da Polónia e dos Estados bálticos da Estónia, Letónia e Lituânia, todas elas antigas repúblicas da União Soviética.
A reacção dos adversários visados, como não deixaria de ser, não tardou. Os EUA dizem- -se disponíveis a discutir as propostas dos russos, mas avançam que há coisas, nas exigências, que até mesmo Moscovo sabe que não são aceitáveis. A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, avançou que Washington vai conversar com os seus aliados, mas “não comprometeremos os princípios- -chave sobre os quais a segurança europeia é construída, incluindo que todos os países têm o direito de decidir seu próprio futuro e política externa, livre de interferências externas”. Na mesma linha, a OTAN diz que “a Rússia não pode ter um veto sobre a expansão da aliança e que a organização tem o direito de decidir sua própria postura militar”; a Polónia indicou que a “Rússia não é membro da OTAN e não decide sobre assuntos relacionados à organização”; a Ucrânia, que é o país que está no centro da elevação da tensão, reagiu dizendo que Kiev tem o “direito soberano exclusivo” de conduzir a sua própria política externa, e somente ela e a OTAN podem determinar a relação entre si, incluindo a questão da adesão do país à organização. Leia mais…
Por Edson Muirazeque *
edson.muirazeque@gmail.com