O complexo agro-industrial de Matama, localizado no distrito de Chimbunila, no Niassa, começou a dar sinais de que, desta vez, ele vai mesmo acordar. Com efeito, o governo provincial, através
da Fundação Malonda – instituição vocacionada para atrair investimentos – acaba de atribuir parte das suas terras à empresa AC Matama, do Grupo inglês África Century Agency, que funciona, igualmente, nas províncias de Nampula e Zambézia.
Matama foi, outrora, celeiro da província de Niassa. Possui solos férteis para qualquer cultura, com destaque para a produção de milho, arroz, batatas reno e doce, hortícolas, fruteiras, trigo, soja, entre outras variedades.
Situado a cerca de 25 quilómetros da cidade capital da província de Niassa, Lichinga, Matama notabilizou-se na década de 70 (antes e pós-independância) quando o então governo liderado pelo falecido Samora Moisés Machel decidiu integrá-lo no projecto 400 mil hectares, cobrindo a zona compreendida entre Lipúzia e Rovuma, passando por Lissiete e Unango, nos distritos de Mandimba e Sanga, respectivamente.
Para quem escala Matama, pela primeira vez, cedo se apercebe do potencial agrícola que o caracteriza. Este ano, por exemplo, com a entrada em funcionamento da empresa AC Matama, os campos apresentam uma paisagem agradável, com mais de 500 hectares a cobrir um verde apaixonante.
Tal como no passado, as esperanças do Niassa, de se transformar numa província auto-suficiente, com fábricas de transformação e processamento de alimentos, estão depositadas nos projectos agrícolas que começam agora a surgir naquele que é considerado o celeiro da zona norte do país.
Pelas razões acima indicadas, em Setembro de 1979, o Governo de Moçambique decidiu aproveitar integralmente toda a zona de Matama, criando a Empresa Agrícola de Matama (EAM), liderada, tecnicamente, por cidadãos chineses especializados na produção, em cadeia, de alimentos de grande escala e outras culturas de rendimento.
Com mil e 500 trabalhadores, entre moçambicanos e chineses, a EAM funcionou até 1992. Porém, durante o conflito armado, que durou 16 anos, opondo a Renamo ao Governo moçambicano, aquele complexo agro-industrial foi abandonado, tendo, parte dele, sido ocupado, mais tarde, por populares que residiam nas suas imediações, situação que se mantém até aos dias de hoje.
Miguel Celestino Amisse, 49 anos de idade, é um dos poucos trabalhadores, ainda no activo, que acompanhou o nascimento da EAM. Ele conta que nos primeiros anos da sua criação, a empresa proporcionou a muitas pessoas da zona momentos alegres das suas vidas, incluindo o emprego que melhorou a renda de muitas famílias.
Em 1997, explica a nossa fonte, a Empresa Agrícola de Matama foi extinta e, em seu lugar, apareceu a MOZAGRIUS, constituída maioritariamente por farmeiros sul-africanos que aceitaram o convite do Executivo para “ressuscitar” o antigo sonho de transformar Matama numa zona produtora de alimentos para o consumo interno e exportação.
Contrariamente, os “boers” permaneceram no Niassa durante pouco tempo, pois, cedo, encontraram grande oposição por parte de produtores locais, que haviam ocupado ilegalmente (?) aquelas terras, para além de que a coabitação entre eles e os moçambicanos não era das melhores, para não falar da falta de capital para aplicar em grandes investimentos. Os nacionais queixavam-se de maus tratos praticados pelos sul-africanos.
Com a partida dos “boers”, começou a surgir um grande interesse interno de reactivar aquele potencial adormecido. Foi assim que de Tete surgiu a IAP (Insumos Agrícolas e Pecuários), uma empresa vocacionada para a produção de sementes de milho, batata reno e hortícolas. De acordo com Miguel Amine, esta empresa não teve o sucesso desejado, ao ponto de lavrar e não semear.
Apesar disso, o Governo continuou com a ideia de querer, um dia, ver o complexo de Matama ocupar o seu papel. Foi com base nessa linha de pensamento que se decidiu entregar à Fundação Malonda todas as áreas até então pertenças da Empresa Agrícola de Matama, com poder suficiente para decidir sobre o destino daquela propriedade. Todavia, o Bloco 1 estava ocupado pelas comunidades, o mesmo acontecendo em relação a algumas áreas situadas no interior daquela propriedade agrícola, atravessada por dois grandes rios, Chicangaga e Luchiringo, cuja água alimenta aquelas machambas.
Usando dessa competência, a Malonda decidiu atribuir ao Grupo inglês da Africa Century Agency com o qual estabeleceu uma parceria, que viria a culminar com a criação da actual empresa, denominada AC Matama. Pelo que testemunhámos, tudo leva a crer que, finalmente, Matama tem todas as condições para se reerguer e começar a andar com os seus próprios pés. Antes, porém, algumas situações devem ser acauteladas visando encontrar consensos que permitam persuadir as comunidades a abandonarem as terras que ocupam dentro daquele complexo agro-industrial.
De recordar que o projecto da AC Matama, ora em execução, prevê, para além da agricultura, a construção de uma indústria para o processamento de ração para a produção de frangos, evitando desta forma a saída de divisas para a compra deste produto no vizinho Malawi.