Na famosa peça teatral “Dois perdidos numa noite suja” de Plínio Marcos, uma das cenas mais emblemáticas é o conflito despertado por causa de um par de sapatos. Um par de belíssimos e reluzentes sapatos… que quase provocam uma ruptura entre os dois amigos.
O leitor se perguntará, certamente, porque é que Bula-Bula foi buscar aqueles “dois perdidos” a este terreiro… e a resposta é simples: os sapatos voltam a causar “mal-estar” nas hostes moçambicanas, mas desta vez à luz do dia.
Mas filosofias à parte, não é que alguém – sabe-se lá porque artes e berloques – enciumado(?) pelo desfile de “pisas” de primeiro nível exibidos pelos personagens do “Caso das Dívidas não Declaradas” que desfilam na tenda da BO, decidiu que aquilo não podia ser… que mesmo havendo presunção de alguma inocência, aqueles cidadãos não tinham o direito de andar ali a mostrar a colecção de sapatos e sapatilhas que têm.
Se pensou, melhor o fez; foi a uma dessas sapatarias de circunstância, arranjou uns cobre e resolveu uniformizar os sapatos. E fê-lo em grande estilo. Bula-Bula não sabe onde o sujeito sacou a mola, mas a verdade é que lá comprou uns tantos pares de sapatos pretos e distribuiu por 6 dos 19 arguidos no caso. Diz-se que foi iniciativa da direcção da Cadeia de Língamo onde estão encarcerados alguns dos réus do caso das “Dívidas não Declaradas”; as sapatilhas pretas fazem lembrar os filmes de Kung Fu, com malta Bruce Lee e Alexandre Fu Sheng, de outros tempos. Decisão tomada, doravante é com aquelas “sapas” que estes devem se apresentar em tribunal nas audiências de julgamento… iguaizinhos perante a lei.
A decisão tem pano para mangas, mas quem a tomou deve ter as suas razões… de resto, um tipo com umas camurças cansadas deve se sentir violentado diante de um calçado que ultrapassa a meia centena de moedas.
Assim, como assim, tem razão Francisco Goya quando diz que a fantasia abandonada pela razão produz monstros impossíveis.