Esperava a minha vez de engraxar os sapatos, nas proximidades do Shopping, quando captei a conversa de dois amigos. Uma brisa farfalhante oriunda da baía de Maputo deixava claro que a manhã na baixa seria gentil.
Um arrumador de carros, indolentemente, sugava com os lábios apertados, que nem um grampo aprisionando duas tábuas rudes, o que restava do charro que enrolara e acendera há alguns minutos sob o olhar impávido dos pássaros que chilreavam nas acácias semi-floridas.
Olhei-o mais atentamente. Tinha ramelas. Olhar vago. A cabeça cheia de vento. Viajava. Tal e qual as suas dreads que faziam lembrar os ramos de um embondeiro.
Baixei os olhos até onde começava o seu corpo. Os pés eram maiores que os chinelos que usava. O calcanhar direito, apenas o direito, gretado, mostrava a textura originada pelo contacto físico com o asfalto da estrada. Uma rotina que seguia de segunda a sábado sempre com destino à baixa da cidade. Leia mais…
Por André Matola
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