Cerca de 140 mil pessoas em Gaza estão a receber assistência através de meios aéreos por estarem sitiadas em “pequenas ilhas”
não atingidas pelas cheias, mas que estão isoladas por estarem cercadas pelas águas.
Por isso, a par das operações de assistência às vítimas das cheias nos vinte e seis centros de acomodação dos diferentes pontos dos distritos da província de Gaza, incluindo a cidade de Xai-Xai, sobrepõem-se outras prioridades, relacionadas com o socorro destas populações sitiadas em certos povoados de Chibuto, Chigubo e Chókwè.
Desde que ficaram isoladas estas pessoas partilhavam comida e outros víveres entre si, mas, infelizmente, já esgotaram. Agora que as operações de resgate das populações normalizaram, o enfoque está a ser dado para o socorro destes aglomerados isolados em “pequenas ilhas”, com o uso de meios aéreos.
Por exemplo, em Xai-Xai, o aeródromo improvisado no bairro Ndambini 2000 serve de ponto de descolagem de helicópteros com diversos víveres para estes locais. Todos os dias também assistimos ao movimento de camiões com produtos para outros pontos onde estão os necessitados.
O domingoapurou que três principais actividades culminam com o recurso ao abastecimento usando meios aéreos: primeiro, a identificação e localização desses sítios; segundo, a análise da situação que justifique a manutenção ou a evacuação dos seus residentes; e, finalmente, nos casos em que seja necessário manter estas famílias nos locais sitiados, recorre-se a esta forma de abastecimento.
O caso evidente deste tipo de operação foi a recente localização de oito famílias algures em Chilembene, Chókwè, que acabaram sendo socorridas em alimentos por via aérea. Todavia, nos casos em que não seja necessária a transferência das pessoas, recorre-se ao uso de embarcações para evacuá-las aos centros de trânsito.
Aliás, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Gaza instalou barcos de apoio para este processo. São três que operam em Chibuto e Guijá. Praticamente, as operações de resgate pararam, o que resta, agora, é potenciar os reassentados em meios de protecção, alimentos e assistência sanitária.
São vinte e seis centros de acomodação criados e que albergam cerca de 110 mil pessoas, sendo o de Chiaquelane o que congrega maior número de pessoas. A preocupação, neste momento, consiste na criação de condições mínimas de subsistência humana, através da garantia de assistência sanitária e médica.
Face ao crescimento do número de pessoas que se vão concentrando nos centros nestas últimas semanas, são necessárias mais redes mosquiteiras e tendas para reforçar os materiais que já foram disponibilizados. Ilustrando: até à passada quarta-feira eram necessárias cerca de nove mil tendas e cerca de 70 mil redes mosquiteiras entre outros medicamentos para conter eventuais casos de malária, de diarreia e de outras doenças.
O sector da Saúde conta com cerca de 130 profissionais que actuam nos postos de saúde provisórios instalados nos centros de acomodação. Instaladas as condições mínimas de assistência, criam-se igualmente mecanismos de monitoria para a redução de riscos que possam afectar as pessoas, difundindo-se regras de higiene e limpeza.
Quer dizer, as autoridades sanitárias esforçam-se com vista a prevenir a eclosão de eventuais doenças que resultem das condições em que as pessoas se encontram acomodadas. Por exemplo, até quinta-feira esperava-se a recepção de cerca de duas mil lajes a serem instaladas em diferentes latrinas dos centros de acomodação.
Apesar destas acções e dificuldades, a vida está sendo gerida normalmente graças aos mecanismos de gestão aplicados no processo de distribuição de alimentos. Há muita disciplina, sobretudo porque o papel dos líderes comunitários é eficiente no processo de distribuição. Porque conhecem perfeitamente as diferentes famílias do seu povoado, os líderes facilitam todo o processo organizativo, evitando-se eventuais oportunismos.
Regra geral, são duas modalidades de distribuição de comida: uma que é feita por meio de distribuição de alimentos por família para que confeccionem por si; a outra que consiste na confecção colectiva de alimentos para se poder distribuir às pessoas.
Muitos produtos alimentares têm sido doados por entidades singulares e colectivas, obedecendo os trâmites necessários. O movimento islâmico, por exemplo, durante a semana passada, distribuiu alimentos em alguns centros de acomodação na Macia.
Apesar da redução do caudal do rio Limpopo, o alerta máximo ainda não foi desactivado, porque todo o cuidado é pouco por nos encontrarmos ainda dentro da estação chuvosa.
A cidade baixa de Xai-Xai ainda continua com água. Durante a semana passada começou a registar-se a invasão das mesmas, por causa dos rombos e fugas que se verificam nos diques de protecção na zona de Anguluzane e Mira-Rio.
De cada vez que os diques cedem, as águas transferem-se para dentro da cidade, inundando certas ruas e casas da baixa. Outro aspecto que se tornou preocupante no distrito de Xai-Xai nos últimos dias da semana foi a morte de quatro pessoas que se dedicavam à faina nas zonas alagadas, contrariando os apelos das autoridades administrativas que alertavam para os perigos que daí podiam resultar. Com estes óbitos, o número de mortes em Gaza sobe para treze.
Aspecto importante a lamentar, resultante desta situação calamitosa, é a destruição de muitas infra-estruturas sociais e económicas. As estradas e pontes são as que mais se destacam. Por exemplo, não é possível alcançar Caniçado, vila-sede de Guijá, através de Chibuto ou Chókwè, porque a estrada e algumas pontecas foram destruídas pelas águas.
Esforços para se garantir o mínimo de transitabilidade nas vias de Gaza foram feitos. A batalha é colocar os troços Macarretane-Massingir e o acesso para Chókwè operacionais. O que se torna mais preocupante é a paralisação das obras de asfaltagem da estrada Caniçado/Chicualacuala que poderá trazer implicações a nível contratual.
Entretanto, de acordo com as TDM (Telecomunicações de Moçambique) as comunicações de e para os distritos de Mabalane e Massingir estão restabelecidas desde o final de sexta-feira. As cheias que assolaram a região Sul do País haviam interrompido as comunicações para aqueles distritos da província de Gaza.