O que se esperava em Xai-Xai, realmente, está a acontecer. As inundações surgiram e isolaram esta cidade da parte sul de Maputo, através da Estrada Nacional Número Um (EN1). Os níveis dos
caudais dos rios Limpopo, Incoluane e dos Elefantes, e respectivos afluentes galgaram e criaram interrupções descontínuas de Macia até à baixa de Chicumbane, província de Gaza.
Neste momento, está interdita a passagem na ponte sobre o rio Limpopo, em Xai-Xai, e a Polícia aperta o cerco para que as viaturas não transitem. Peritos do sector de águas no país classificam as actuais cheias de Xai-Xai como de segundo nível, comparativamente às de 2000, que atingiram cerca de nove metros, e estas, pelo menos até sexta-feira, situavam-se entre os seis a oito metros de altura.
“Temos que dar graças a Deus para que os níveis das águas do mar não subam também, porque se isso acontecer, pode contribuir para elevar cada vez mais os níveis dos caudais dos rios”, disse uma fonte ligada às operações de salvamento.
É que embora o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) tenha activado o alerta vermelho e acções preventivas face ao cenário, disponibilizando três embarcações e reforçando as equipas operativas, não significa que tudo esteja bem. Será ainda necessário que se esteja atento.
Por esse motivo, os procedimentos preventivos emitidos pelos serviços oficiais do sistema de aviso prévio, desde quarta-feira, continuam válidos para que as comunidades em zonas de risco saiam imediatamente para as elevadas e seguras da cidade de Xai-Xai.
Por volta das 18 horas de sexta-feira, a nossa reportagem esteve na zona da Pontinha, entrada para XaiXai, partindo de Maputo, e vimos pelo menos oito pessoas empoleiradas em cima das árvores precisando de socorro. A sua salvação dependeria da disponibilidade de outros meios que na altura estavam a socorrer gente em Chókwè.
Assistimos, também, o processo de salvação de gado bovino por parte dos respectivos criadores que, debaixo da ponte, embora parte significativa tivesse sido salva, os mesmos se esforçavam em recuperar outros animais que incansavelmente nadavam contra as correntes do rio Limpopo.
Soubemos que o pico das águas verificado em Sicacate foi acumulado pelas águas que vinham de Chókwè. Até à noite de sexta-feira, seis pessoas tinham morrido no distrito de Xai-Xai e duas em Chibuto por afogamento, totalizando ao todo, oito óbitos.
Os que acataram os procedimentos do INGC, salvaram-se deste cenário porque o alerta vermelho anunciado previa situações de risco e necessidade de comunidades e instituições se refugiarem para os centros de acomodação nos bairros Ndambini 2000, Marien Ngouabi e Patrice Lumumba.
Estes bairros de Xai-Xai integram os três centros de acomodação, nomeadamente, o centro de formação profissional da OMM, a Escola Primaria Completa em Marien Ngouabi e o bairro oito. Estes centros, até ontem tínhamos problemas no aspecto organizativo e de funcionamento, por estarem desprovidos de tendas suficientes para a acomodação das vítimas, embora autoridades municipais tenham garantido que todas as condições estavam criadas para a inversão do cenário.
A situação demonstra que as condições impostas estão aquém da comodidade mínima exigida. Vimos que era necessário disponibilizar-se kits adequados e suficientes de medicamentos que sustentassem casos de doenças emergentes como diarreia e malária.
As autoridades sanitárias da província de Gaza afirmaram que estavam a desdobrar-se em busca de mantimentos prementes para Chókwè, Guijá e Chibuto, tidas como críticas. Mesmo que tal aconteça, em nossa opinião, seria ideal que se olhasse também para a cidade de Xai-Xai que agora também precisa de intervenção urgente.
O trabalho feito pela Saúde inclui a mobilização de agentes que se encontravam de férias e a alocação de diversos medicamentos em diferentes centros, incluindo a mobilização dos afectados em prevenções de doenças.
Entretanto, deve-se considerar que as cheias de 2000 contribuíram para a consciencialização das pessoas singulares e colectivas sobre medidas a tomar, antecipadamente. Nessa altura, foram poucas as instituições públicas que se precaveram da salvação de seus bens e artigos.
Desta vez o cenário inverteu-se porque muitos se acautelaram. Logo que se decretou o alerta vermelho surgiram muitos camiões carregados de mercadoria diversa para a zona alta. Os cidadãos comuns, consciencializados desta vez, evacuaram seus bens para junto de seus familiares e centros de acomodação. A banca desactivou as ATMs da baixa e transtornou muita gente preocupada em levantar salários, porque tudo calhou no final do mês.
Os salários eram para superar as suas despesas mensais e necessidades de emergência para zonas seguras. Consequentemente, enchentes concentraram-se na zona alta da cidade.
Dada a maior procura dos seus serviços, os chapas encontraram caminhos de especulação, encurtando rotas e carregando mercadorias de gente mais aflita. Os preços de transporte de mercadorias variaram entre 400 a 500 mil meticais. Neste momento os bairros ribeirinhos adjacentes ao rio Limpopo que atravessa a cidade de Xai-Xai estão submersos.
O comércio paralisou na baixa da cidade e todos os outros serviços são prestados na zona alta. Praticamente, ninguém vive na zona baixa para onde as pessoas se concentram de dia para verem as novidades do comportamento das águas. Até agora continua o fornecimento normal de energia eléctrica. Só a água, de vez em quando, é interrompida.
Dados disponíveis indicam que cerca de 200 hectares de terra cultivada se perderam em Guijá e há muitas porções perdidas também em Chibuto. As quedas de chuva que ocasionaram isso resultam do facto de terem variado entre 300 a 500 milímetros, estimativas acima de 200 a 300 milímetros que ocorrem numa média de três meses, em situações normais.