O campo tem dimensões reduzidas e por isso só lá cabem 7 jogadores contra 7. O árbitro dirige o jogo sem juízes auxiliares. As linhas praticamente não se vêem e por
isso a demarcação é feita pelos pés dos espectadores. Mas há algo que por lá sobra, e que infelizmente rareia no “Moçambola” e mesmo nos “Mambas”: um empenhamento até aos limites. Esta é a Copa Mafalala, competição que rodou domingo passado a sua 31.ª final.
O pano de fundo é a vivacidade, manifestações de amizade, reencontro entre velhos e novos conhecidos.
No dia da final, realizada domingo passado, dentre os assistentes, dois antigos residentes de destaque se fizeram presentes, sem formalismos.
Os seus nomes: Joaquim Chissano e Pascoal Mocumbi.
MÍSTICA
No espaço reservado aos artistas, muita força, intuição e intencionalidade, com pormenores individuais à mistura, muitos deles dignos dos grandes estádios.
Não se “come a relva”, porque ela não existe. Nem a natural, nem a sintética. Mas areia na boca dos jogadores apareceu várias vezes.
E não eram, seguramente, os 20 mil meticais do prémio final o que empolgava os artistas; nem uma eventual alta qualidade de futebol, difícil de obter num piso daqueles, o que motivava a enchente.
O que seria então?
Algo que se pode resumir em duas palavras: tradição e mística!
CALÇÕES CURTOS PARA
A CRIANÇA QUE CRESCEU
Ninguém tem o direito de pôr em causa uma iniciativa que movimenta tantas emoções, tanto voluntarismo e voluntariedade dentro e fora das quatro linhas.
No espaço que resistiu aos tempos e aos ventos, um lugar que se orgulha de ter sido o berço de Eusébio e de outros craques, cantou-se o Hino Nacional e jogou-se futebol com uma entrega à moda antiga. O terreno, que tem sido religiosamente (salva)guardado pelos residentes, no coração do mítico bairro da Mafalala, transbordou de alegria.
O bairro foi fechado ao trânsito, as mamanas reforçaram os “colmans” e os fogareiros, para uma festa que já tem tradição.
E o que se viu não gorou as expectativas. Voluntários a enquadrar, festa com direito à invasão ordeira a cada golo, animação em todo o espaço circundante.
Mas o que os “donos” desta prova têm de entender é que a criança que eles decidiram “parir” há 31 anos já não cabe em tão pequenos calções. Pelo menos em dia de final, os (e as) residentes deverão ter direito a vestir o seu trajo de gala (“bana estilo”) e deslocarem-se ao Estádio da Machava ou mesmo do Zimpeto, com direito a autocarro gratuito, com a intenção de se estender uma iniciativa que demonstra perseverança à cidade toda.
A Copa Mafalala já exige, o país inteiro agradece.
Estamos perante a “consequência” natural de um crescimento. Nada de bater mais na criança. Ela já não cabe nos calções que outrora lhe serviam que nem uma luva!!!