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SOBRE A CRISE DO PRIMEIRO MUNDO

Por admin

Pela comunicação social e viajando recentemente pela Europa in visu apercebi-me das dimensões humanas da crise no Primeiro Mundo.

Nos Estados Unidos Obama encontra-se manietado pela maioria republicana e reacionária da Câmara dos Representantes.

Lutou ele para preservar no orçamento algumas conquistas sociais e arrecadar mais impostos das camadas mais afluentes. Uma solução quase bastarda veio a afirmar-se. A dívida americana avizinha os 100% do PIB. O combate contra a proliferação de armas, pesem as mortandades contínuas, encontra os mais sérios obstáculos por parte dos que entendem que mais armas significam mais segurança e que para proteger as criancinhas nas escolas bastariam guardas e professores armados e… mochilas blindadas. Sem fazer contas, parece-me que nestas três décadas mais inocentes perderam a vida nestas chacinas do que em todos os atentados levados a cabo pelos fundamentalistas do Al Queda. Freud via no fetichismo pelas armas um substituto para os complexos de pénis curtos!

Da Grécia à Espanha, da Itália a Portugal, mesmo na França e Alemanha soam sinais de alarme sobre a crise económica e financeira, o desemprego, o envelhecimento da população e o risco da falência dos sistemas de segurança social devido ao crescimento dos beneficiários e à diminuição assustadora dos que, porque jovens e trabalham, contribuem.

Estive uns dias em Portugal. O que vi e li?

1.    Raras as mulheres grávidas e as crianças brincando nos parques;

2.    Relatam as estatísticas que houve mais 16.000 óbitos do que nascimentos no país;

3.    2% de todos os habitantes estão no desemprego. Dizem os números que 1% da população activa emigrou durante o ano. Trata-se dos mais jovens, dos mais ousados e empreendedores que poderiam contribuir para levantar o país, que perde a sua hemoglobina, torna-se anémico.

Face à grande depressão que assolava os Estados Unidos, Jean Baptist Keynes aconselhou o Presidente Roosevelt a investir nas infra-estruturas, se necessário imprimindo papel-moeda para financiar a acção. Assim nasceu o projecto gigantesco do Vale do Tennessee, barragens, centrais hidro-eléctricas, canais de irrigação. Criou-se emprego suscitando-se assim o consumo, o que a jusante relançou o consumo, a construção de habitações, a aquisição de viaturas.

O país despertou. As receitas actuais dos criadores da nova depressão apontam, todavia, para a redução do consumo, a pauperização das camadas médias, a sacrossanta protecção à banca especuladora e ao capital predador.

Diplomaticamente o Presidente Guebuza alertou contra as receitas bárbaras e contraditórias dos senhores de Bretton Woods.

Havia uma indústria de caju pujante, exportávamos vagões da COMETAL, pneus da MABOR, tecidos e confecções. Tudo se massacrou em nome do pagamento da dívida durante a agressão do apartheid. Ordenou-se parar o apoio à agricultura. Os mesmos, hoje, dizem-nos que negligenciamos a agricultura. Testemunhei os ultimatos do FMI e do Banco Mundial, ouvi as maiores sandices do então Director-Geral do FMI que ordenava reconvertermos os operários em artesãos e que o FMI daria uns fundinhos para tal! Qual a receita? Apenas a que pensarmos e nós mesmos decidirmos.

Os meninos brancos e de olhos azuis, de que falava o Presidente Lula, tudo fizeram para desligar as Bolsas e a Banca da actividade produtiva a favor dos jogos de especulação. Conluios entre os grandes bancos geraram manipulações do LIBOR, crises nos cartões de crédito, no imobiliário. Quem paga as facturas da rebaldaria? O trabalhador e as camadas médias. Quem fica impune? Os meninos brancos e de olhos azuis que continuam a papaguear receitas ultra liberais, que conhecem o mundo e o povo apenas através de estatísticas e jogos de computador.

Anda por cá essa fauna só que com cabelos crespos e a tez escura. Esqueceram-se das suas origens, dos pais que colimam e andam de “chapa”, pouco preocupados com parques de estacionamento. Vão gerando cataclismos como em Maputo em Fevereiro de 2008 e Setembro de 2010, ou em Kateme, na província de Tete. O povo que se desenrasque, mas esse povo torna-se por vezes um búfalo ferido quando o acossam em demasia.

A euforia com a presença das transnacionais no carvão e gás parece-me perigosa, sobretudo quando ignoramos os interesses predadores e gananciosos que compram as elites com cascas de amendoim. Eles destruíram o Congo, assassinaram Lumumba, criaram o Biafra, as guerras nos Grandes Lagos, desintegraram a Somália e o Sudão, liquidaram a Líbia e hoje apressam-se a fazer o mesmo no Mali e Síria. Não há vacina contra esses malefícios. Tenta o nosso Governo agora renegociar os acordos, claro que também o desejo e todos, mas eles possuem baterias de juristas, compram sentenças nos tribunais do mundo e estão experimentados em esmagar os povos.

Um abraço à nossa vontade de lutar e afirmarmo-nos com gente adulta,

Sérgio Vieira

P.S. Desde Setembro o preço do ferro subiu 56%, atingindo pelo fim do ano 135 US$ a tonelada FOB Shangai. Neste período o ouro baixou desde Outubro 7,3%.

Transformar o carvão em coque, usar a energia do carvão de queima para produzir o coque e o aço a partir do nosso ferro constitui uma aposta segura para o futuro do nosso país, cria as bases da indústria pesada, abre a porta a novas tecnologias, cria emprego cada vez mais qualificado. O mesmo carvão e o gás dão-nos os adubos e os combustíveis líquidos.

De par com a produção de alimentos para um mundo cada vez mais carente, em 2030 a demanda de comida subirá para mais 30% que no presente.

Caminharemos com os dois pés que sublinha a nossa Constituição.

Pelo fim da exportação das matérias-primas, pela industrialização e uma agricultura de modernidade, o meu abraço,

SV

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