Aquando das celebrações do 20.º aniversário da assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), a 4 de Outubro do ano passado, o senhor apareceu em Quelimane num aperto
de mão com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. O que pretendiam demonstrar com o gesto, doze anos depois do desentendimento que levou ao seu afastamento do partido da “perdiz”?
Foi uma mera coincidência estar em Quelimane naquela data. De facto, tendo coincidido com a celebração dos 20 anos das celebrações do Dia da Paz e da Reconciliação Nacional, era importante deixar um gesto muito claro sobre aquilo que é a dimensão da nossa visão em relação a certas verdades. Infelizmente, o apelo à paz tem sido uma palavra morta, que não é correspondida na íntegra por acções concretas. Isto é, temos grandes discursos, mas que não têm nada a ver com a realidade.
Aquele gesto terá marcado o início da reconciliação entre Dhlakama e Raul Domingos?
Quisemos deixar claro que entre nós há um ambiente de reconciliação. Quer dizer: passámos das palavras aos actos, demonstrados através de abraços e aquele sorriso entre nós, participação na inauguração da Praça da Paz, o largar juntos de pombos… Portanto, ficou um gesto marcante para todos os moçambicanos e para as gerações vindouras, de que políticos desavindos reencontraram-se em praça pública e abraçaram-se.
Na sequência desse encontro público, alguns círculos políticos falam de um provável regresso de Raul Domingos à Renamo. É possível?
Essa questão está fora de hipótese. Isto é, não há regresso nenhum, nem planos e muito menos intenções nesse sentido.
Quer dizer que ainda não lhe contactaram a propor o regresso?
Ainda não fui abordado formalmente. É provável que haja pessoas com esse desejo, mas ainda não foi acompanhado por uma acção concreta. Olha, vou-lhe dizer uma coisa importante que se calhar muitos não acreditam, mas a verdade é que 12 anos depois não faz sentido deixar uma caminhada frutuosa no PDD e regressar à Renamo. Isso não faria sentido absolutamente nenhum e nem está nos meus planos.
Há quem diga que essa seria a melhor forma de enfrentar o partido no poder e fazer face aos outros partidos emergentes?
Seria mais prático e de fácil concepção uma coligação para fins eleitorais. Admito apenas uma coligação para conquistar o maior número de assentos nas eleições autárquicas deste ano e nas gerais de 2014, pelo que nos próximos dias poderá haver acções concretas.
Algumas correntes de opinião pública afirmam que o encontro com o líder da Renamo teria sido engendrado pelo edil de Quelimane, Manuel de Araújo. Quer comentar?
Essa pergunta ficava muito bem ao próprio Araújo. No que me toca, dizer que não corresponde à verdade e se for o caso, então o presidente do município de Quelimane não teria dito a verdade sobre o seu projecto. O que sei e de acordo com a carta que me enviou, foi um convite para proferir uma palestra no âmbito das celebrações dos 20 anos do AGP. O outro aspecto é que para este evento tinham sido convidados todos os signatários e negociadores do acordo. Estamos a falar de Chissano, dos dois negociadores-chefes, nomeadamente Raul Domingos e Armando Guebuza, mediadores, Dom Jaime, Mateus Zuppi, entre outros.
Como reagiria a uma eventual situação de Dhlakama tornar-se presidente honorário e o senhor tomar as rédeas da Renamo, segundo projecções de algumas correntes?
Sendo a Renamo um partido com cerca de trinta anos de existência, com estruturas próprias, uma posição dessas tinha de ser feita em fórum próprio. Não acredito que seja do próprio presidente como pessoa, mas sim da instituição, o que significa que deve passar necessariamente por uma deliberação de algum órgão daquele partido a ser formalmente transmitida ao PDD, que, por sua vez, vai analisá-la e pronunciar-se a nível dos seus órgãos de direcção. Seria muito simplista Dhlakama auto-proclamar-se presidente honorário e Raul Domingos ficar no lugar dele. Não estaríamos a ser democratas.
Nos corredores, sobretudo por parte de alguns membros sonantes ligados à liderança da Renamo, fala-se de que esta seria uma saída airosa para recuperar o eleitorado que anda disperso…
Vamos dar tempo a esses ideólogos para que façam o seu trabalho e que efectivamente nos tragam propostas credíveis nesse sentido. Por mim, entendo que a alternância política só poderá acontecer se houver uma união de forças e quando a oposição deixar de ser egoísta e pautar por uma visão clara sobre qual seria a melhor alternativa para alcançar o poder. Enquanto houver mais de 50 partidos de oposição, os votos da oposição vão continuar dispersos, por um lado, e, por outro, muitos eleitores vão abster-se de votar, por ainda não estar claro sobre quem pode constituir uma alternativa ao actual poder.