No dia 14 de Setembro, duas instalações petrolíferas da Arábia Saudita foram alvo de ataques que foram reivindicados pelos rebeldes Houthis. Ao assumir a responsabilidade pelo ataque, os Houthis justificaram-no como uma medida proporcional e necessária em retaliação aos bombardeamentos que a coligação de intervenção, liderada pela Arábia Saudita, está a fazer no Iémen. Porém, as autoridades de Riade e de Washington “não acreditam” na veracidade da reivindicação e preferem apontar o dedo ao Irão, que consideram ser o real culpado pelas explosões verificadas nas instalações da Aramco (petrolífera estatal da Arábia Saudita). As autoridades iranianas já se distanciaram do incidente, mas os EUA e a Arábia Saudita já prometeram apresentar evidências que mostram a “mentira” dos Houthis e a “verdade” da implicação do Irão. Uma questão para reflexão neste assunto reside nas motivações por detrás da “verdade” ou “mentira” na crença ou posicionamento de cada um dos envolvidos.
Até que investigações independentes em torno dos ataques às instalações da Aramco ocorram, qualquer “verdade” proveniente dos quatro interessados no assunto – Arábia Saudita, EUA, Irão e rebeldes Houthis – será duvidosa. A reivindicação da autoria dos ataques, ou o apontar do dedo a este ou àquele actor entre os quatro traz consigo, sempre, uma dose de desconfiança para o analista. Esta desconfiança em relação a qualquer “verdade” narrada deve-se ao facto de a posição de cada um dos quatro intervenientes ter, por detrás de si, interesses “escondidos” por alcançar.
No caso da reivindicação dos rebeldes Houthis sobre a autoria dos ataques às instalações da Aramco, pode ser “verdade”. Porém, pode igualmente ser “verdade” que estes não sejam os responsáveis pelo ataque, mas que o tenham reivindicado para obter ganhos políticos. Seja como for, para os Houthis, não importa a “(in) verdade” sobre a autoria dos ataques, mas sim a percepção que a opinião pública saudita e internacional deve ter em torno do incidente. Com efeito, assumindo-se como “verdade” a reivindicação da autoria dos ataques, o incidente é um aviso à Arábia Saudita, que está a liderar esforços da coligação militar que está a combater os rebeldes Houthis no Iémen. É um aviso no sentido de que o grupo rebelde tem capacidade de, também, levar a luta para dentro do território da Arábia Saudita. Ao assumir a responsabilidade do ataque, eventualmente os Houthis esperam criar um clima de medo nos sauditas, na esperança de que as autoridades deste país travem as incursões militares sobre o território iemenita, facto que significaria “abandonar” o Governo iemenita que é combatido pelos Houthis. Leia mais…
Por Edson Muirazeque *
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