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Nada é absoluto quando se trata da mente humana

Por Idnórcio Muchanga

O sector de transportes ‒como qualquer outro que toca directamente as camadas sociais mais desfavorecidas ‒tem um valor incomensurável. Dele, o transporte público, depende uma boa franja da população moçambicana. Não é à toa que o Governo decidiu adquirir centenas de autocarros… o plano fala de 1000 unidades e já vamos na casa de 850. Grão a grão, a galinha enche o papo!

Na senda desse investimento, foram criadas diversas cooperativas de transportadores que se esmeram ‒à nossa maneira ‒no transporte de milhares de cidadãos, entre adultos e crianças ‒para diversos destinos das cidades de Maputo e Matola, bem como no resto da província. Há bairros que só passaram a ver autocarros graças a esta iniciativa.

Na verdade ‒até podem dizer que Bula-bula só vê bugalhos onde abundam alhos ‒mas há ainda muito por se fazer na área de transportes, mas, como sói dizer-se, devagarinho vai-se longe. Entretanto, os “chapa-100” e os “My Love” continuam a laborar porque a demanda é grande.

A propósito de “chapas”, vale lembrar que, com eles, nos últimos anos, surgiu uma nova profissão: “modjeros”. E o que são estes compinchas? Nada mais nada menos que um grupo de jovens (alguns nem tanto) que, usando os seus pulmões e cordas vocais, anunciam os destinos e as rotas dos “chapas” e “my love”. São, digamos, angariadores de clientes. Em troca, ganham uns trocados. Como o fazem desde as primeiras horas da manhã até a hora dos vampiros e lobisomens, ganham mesmo muita mola.

A coisa, entretanto, evoluiu, mas os “modjeros” não.

Os autocarros que circulam agora têm um sistema de comunicação que dispensa o aturado trabalho dos “modjeros”. Os autocarros têm megafones. Chegam a uma terminal e lá se ouve a rota e o destino alto e bom som. Naturalmente que os “modjeros” não gostaram da inovação…

Bula-bula, porque useiro dos autocarros, “chapas” e “my love”, foi acompanhando as metamorfoses que agora nos conduzem para outra “guerra”… Ora, num destes dias, à noite, Bula-bula estava num daqueles novos autocarros. Estava absorto lendo um livro infanto-juvenil, “Accomplice” (A Cúmplice) e eis que uma cena inusitada captura a sua atenção, ali na esquina entre as Avenidas 24 de Julho e Guerra Popular, uma das que mais concentram pessoas residentes na Matola, quando um grupo de “modjeros”, empunhando um instrumento perfurante, ensaia sabotar um dos pneus de um dos autocarros que acaba de estacionar.

O espanto de Bula-bula foi logo esclarecido por um companheiro de circunstância. Ele tratou de dizer que os “modjeros” estavam literalmente lixados com a inovação (megafones) que os deixava a ver navios e que haviam prometido vingar-se dos “autocarros” que tinham tido a ousadia de “dispensá-los”. Leia mais…

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