Grande parte do debate geopolítico dos séculos XIX e XX dedicou-se a responder à pergunta: como o estado pode aumentar o seu poder nacional diante da competição crescente nas relações internacionais? Autores como Alfred Tayer Mahan (americano) e Halford Mackinder (britânico) e Nicholas Spykman (americano) tentaram responder com algum sucesso a esta pergunta.
Para Mahan, os EUA não precisavam de colónias, precisavam, isso sim, de construir um império informal com comércio baseado no princípio de portas abertas e um cordão de bases navais em zonas turbulentas. Por sua vez, Halford Mackinder argumentou que esse aparente aumento de poder nacional de um estado ocidental não pode superiorizar-se aos estados localizados na Eurásia porque esta região está no coração da terra, é uma área pivot. Uma região inacessível ao poder naval e, por isso mesmo, concluiu que quem dominar a Eurásia domina o coração da terra e quem dominar o coração da Terra dominará o mundo.
A conclusão de Mackinder desanimou os americanos que se tinham empolgado com as conclusões de Mahan. Foi Nicholas Spykman que devolveu o ânimo aos americanos com a sua teoria de Rimland. Spykman argumentou que a Eurásia só é poderosa porque tem alianças com países costeiros e, nesse sentido, a área pivot não é então a Eurásia, mas sim as margens (rimland) da Eurásia. Portanto, quem controlar o rimland da Eurásia dominará a Eurásia, quem dominar a Eurásia dominará o mundo. Por isso, Spykman recomendou o estabelecimento de bases navais nas margens da Eurásia com o fito de dominar o mundo.
Foi por causa da recomendação de Spykman que os EUA dedicaram-se a criar organizações militares para controlar as margens da Eurásia. Em 1949, os EUA criaram a Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) para controlar o rimland Ocidental; em 1954, criaram a Organização do Tratado Centro (OTCEN) para controlar o rimland central; no mesmo ano foi criada a Organização do Tratado Sudeste (OTSE) para controlar o rimland sudeste.
Tendo em conta o objectivo estratégico dos EUA, o de controlar os rimland da Eurásia, para impedir a prosperidade dos estados localizados naquela região, principalmente a Rússia, a Turquia é a carta AZ do baralho estratégico dos EUA. Esta relevância da Turquia deriva do facto de ser a porta de entrada e de saída (através dos estreitos de Dardanelos e Bósforo) para a Rússia aceder aos mares e oceanos navegáveis e por essa via fazer o comércio internacional. A atitude da Turquia de comprarantiaéreas S400 russas representa não apenas a vontade da mudança estratégica da Turquia a desfavor dos EUA, mas uma afronta à OTAN, organização ocidental a que pertence. Leia mais…
Por Paulo Mateus Wache*