A implementação da política externa dos EUA de Donald Trump tem sido uma excelente escola para os estudiosos de relações internacionais testarem a aplicabilidade da teoria de jogos. Trump deve ter estudado muito bem a vertente realista da teoria de jogos que, em muitas das suas decisões de política externa, apresenta a sua posição na perspectiva de um jogo de soma zero, em que quase sempre dá ultimatos e não necessariamente abertura para o diálogo e cooperação. No entanto, no episódio do abate do drone (avião não tripulado) norte-americano que “espiava o espaço iraniano” Trump sucumbiu ao seu próprio “jogo da galinha” que tem obrigado Hassan Rouhani, Presidente do Irão, a jogar.
O “jogo da galinha” foi popularizado, de acordo com Dougerty e Pfaltzgraff Jr.[1], num filme de Hollywood, em que dois jovens conduzem as viaturas dos seus pais a 120 km/h e se dirigem, pelo meio da estrada, um contra o outro. Caso nenhum dos dois se desvie para a direita, ambos morrerão no embate. Este é um jogo de soma negativa, em que ambos os jogadores sofrem as maiores perdas possíveis. Se um se mantiver na rota e o outro se desviar, aquele que não se desvia ganha prestígio perante o grupo, enquanto o outro perde prestígio. Este último é o “galinha”. Assim, se um jogador se desvia enquanto o outro permanece mais tempo na rota de colisão, este jogo acaba por ser de soma zero. Se ambos se desviarem em simultâneo, sofrem os dois de perda de prestígio aos olhos do grupo e a reputação de ser “galinha” é partilhada pelos dois.
Na essência, o “jogo da galinha” tem em vista demonstrar, no caso do relacionamento entre os Estados, qual tem mais poder e qual líder tem coragem suficiente para ir até “as últimas consequências”, mesmo que isso implique o recurso à guerra, para a satisfação do interesse nacional. É importante referir, contudo, que o “jogo da galinha”, especialmente quando envolve a possibilidade de perda de vidas humanas, é um jogo de indivíduos irracionais, pelo menos no início do jogo, mas que no seu decurso podem rapidamente tornar-se racionais para salvar as suas próprias vidas ou de outros.
A implementação da política externa de Trump tende, com efeito, a mostrar aos potenciais adversários ou competidores dos EUA que quem não se curva arrisca-se a ter a reputação de “galinha” nas relações internacionais. Eventualmente, a preferência trumpiana por estratégias que desembocam em “jogos da galinha” com os seus rivais ou competidores pode ser explicada pelo “mito” de grandeza que este líder atribui ao seu país, a ponto de acreditar que qualquer ultimato que impuser será respondido por recuos dos seus adversários. Os dados relativos às respostas dos seus adversários, porém, mostram uma tendência de não recuo dos alvos dos jogos.
[1]Dougerty, James E. e Robert L. Pfaltzgraff, Jr. (2001). Contending Theories of International Relations: A Comprehensive Survey. 5th Edition. Longman. New York.