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Quem está por detrás dos ataques aos petroleiros ao largo do Golfo de Oman?

Por Idnórcio Muchanga

Desde a ascensão de Donald Trum ao poder nos EUA a relação desta potência, e dos seus aliados na região do Golfo Pérsico, e do Médio Oriente em geral, com o Irão tem subido de tom. Trump definiu como uma das suas metas de política externa encurralar o Irão, talvez numa expectativa de ver a queda do regime, e para esse objectivo encontrou aceitação nas monarquias do Golfo e do Estado de Israel. Na sua empreitada, estes aliados têm tentado imputar ao Irão qualquer mal que ocorra na região do Médio Oriente. Na semana passada, dois petroleiros foram atacados ao largo do Golfo de Oman e, poucas horas depois, os EUA publicaram um vídeo que alegadamente prova que os iranianos foram os responsáveis pelos ataques. No entanto, o timing da publicação do vídeo e o pronunciamento dos marinheiros que estavam dentro de um dos navios atacados faz pensar que a narrativa americana pode não ser verdadeira como se quer fazer acreditar. Quem está por detrás dos ataques no Golfo de Oman?

O Golfo de Oman é de extrema importância para a economia global, de tal forma que qualquer fricção que ali ocorra é motivo de preocupação mundial. Isto deve-se ao facto de ser por ali onde está localizado o Estreito de Hormuz, uma importante via fluvial para o fornecimento de petróleo para o mercado mundial. Em função da (in) segurança na passagem de navios por aquela rota, o mercado mundial pode estar sujeito a cortes ou não no fornecimento do petróleo e gás natural, facto que pode afectar os preços destes valiosos recursos e, portanto, da economia global. Aliás, estima-se que cerca de um sexto do petróleo mundial é transportado por aquela via. Tal petróleo provém de países como a Arábia Saudita, o Irão, os EAU e o Kuwait. De igual modo, estima-se que o Qatar, que é o maior exportador de Gás Natural Liquefeito, exporta a maior parte do seu gás por via daquele estreito.

Os EUA apressaram-se a acusar o Irão e este último tratou logo de refutar as acusações e, aliás, devolveu-as ao acusador considerando o incidente uma cilada contra si. A troca de acusações pelas lideranças dos dois países é perceptível dado o nível de tensão no relacionamento entre os dois. No que aos culpados pelos ataques aos petroleiros diz respeito muitos actores podem ter culpa. Primeiro, os próprios EUA podem ser, como afirmam os iranianos, os que orquestraram os ataques aos petroleiros para venderem a narrativa de que o Irão, que se assume como o garante da segurança ao longo do estreito, seja o culpado. É do interesse dos EUA que a liderança do país persa seja desacreditada na arena internacional. Ao desacreditar a liderança shiita do Irão os EUA esperam, eventualmente, criar condições para uma queda do regime controlado pelos ayatolahs. Se isso ocorrer, os EUA poderão não só instalar um regime favorável aos comandos de Washington como também eliminar “a ameaça” aos seus aliados do Médio Oriente.

As monarquias do Golfo, com particular destaque para a Arábia Saudita, não perfilam longe das suspeitas da responsabilidade pelos ataques aos petroleiros. Elas não só possuem os meios para orquestrar aquele tipo de ataques, como também têm motivos de ver o Golfo de Hormuz instável mas com dedo apontado ao Irão. É do interesse das monarquias do Golfo a culpabilização do país persa para que a “comunidade internacional” tome medidas “apropriadas” contra o Irão. Aliás, desde a revolução islâmica no Irão em 1979, as monarquias do Golfo conseguiram ultrapassar as rivalidades entre si em prol de uma união contra um inimigo comum: o Irão. Foi por aí que criaram o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), cuja missão primordial é contrabalançar, ou mesmo conter, o avanço da influência iraniana (xiita) sobre a região. Portanto, a hipótese de que o ataque possa ter sido perpetrado por uma das monarquias para a culpa recair sobre o Irão não se pode descartar.

O próprio Irão, que já é o alvo preferencial dos EUA e seus aliados do Golfo, não pode ser retirado da lista de suspeitos. O timing da denúncia dos EUA e o pronunciamento dos marinheiros de um dos petroleiros parece favorecerem a narrativa de vitimização que está a ser propalada pelo Irão. A pressa dos EUA em publicar o vídeo leva à suspeita de que estes orquestraram os ataques para o país persa arcar com as responsabilidades. Os pronunciamentos dos marinheiros, que dizem que as explosões não resultaram de minas postas nos navios, mas sim rockets provindos do exterior também contribuem para a aparente inocentação do Irão. Porém, o país persa tem os meios e o motivo para efectuar ataques daquela natureza. A asfixia económica a que tem estado a ser submetido pode estar por detrás, se se provar, dos ataques. Os ataques podem ser uma demonstração de que eles têm a capacidade de influenciar o mercado internacional do petróleo e, por isso, os EUA devem retroceder na sua pressão.

Por Edson Muirazeque *

edson.muirazeque@gmail.com

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