É médico há mais de três décadas. Possui uma trajectória profissional interessante. Excluiu o sonho de infância de se tornar economista e trilhou caminhos que o levaram a ser médico. Antes de gineco-obstetra, foi ardina no nosso prestigioso jornal “notícias”, aos 12 anos de idade. Hoje está na contagem em direcção à reforma.
Natural de Vilankulo, filho primogénito de uma família de seis irmãos, é também pai de três filhos. Aos doze anos de idade, saiu da sua terra natal para Maputo, onde passou a viver em casa do seu tio. Esta deslocação tinha como objectivo continuar com os estudos.
Por essa altura, surgiu uma oportunidade de fazer algo, enquanto esperava o ingresso à escola. “O meu tio arranjou-me emprego como ardina. Vendia o jornal ‘notícias’ de manhã e de tarde e no resto do dia ia à explicação de ciências”, conta.
Aos 18 anos ingressou no liceu, na então Escola Preparatória Joaquim de Araújo, actual Escola Secundária Estrela Vermelha, onde fez o 3.º ciclo de liceu. Abandonou o trabalho como ardina e entrou no Ministério da Saúde, onde foi admitido como agente de pulverização no Hospital Militar de Maputo. Dada a sua flexibilidade e nível escolar, foi promovido a misturador. No Ministério da Saúde também foi jardineiro, oficial do Ministério, funcionário do laboratório e técnico de estatística. Foi no sector de Estatística que nasceu a sua paixão pela medicina. “Lá eu lidava com números, mas também vi muita coisa que me chocou. Lembro-me que em 1977 houve um surto de cólera que matou muita gente. Isso fez nascer em mim a vontade de salvar vidas”, conta.
Apesar de vir de uma família humilde, em 1978, Arnaldo Vilanculos consegue ingressar na Faculdade de Medicinada Universidade Eduardo Mondlane, onde fez o curso em 10 anos, devido à falta de condições para custear os estudos. “Com a categoria de estudante-trabalhador, naquela altura, apenas era permitido fazer dois terços das cadeiras ao ano, enquanto os estudantes a tempo integral faziam o curso em 7 anos”, explicou.
Depois da sua formação foi encaminhado para Gaza, onde trabalhou como director do Hospital Rural de Chókwè. Em 1992, especializou-se em ginecologia e obstetrícia.
Hoje, à porta da reforma como médico gineco-obstetra, afirma que cumpriu com o que o levou a trilhar este caminho: “fazer um parto com sucesso é gratificante. Salvar vidas é a maior recompensa para um médico”, expressou-se com entusiasmo.
Nos trinta anos de carreira como médico, guarda em si episódios que o marcaram. “Por causa da escassez de meios de trabalho, na época de guerra, tive de usar fios extraídos de folhas de sisal para suturar o estômago de um menino que havia sido baleado em Massingir”, contou. Mas as lembranças não pararam por aqui. Por amor à profissão também retirou bebés mortos que eram lançados por militares aos canais de águas usadas para irrigação dos campos agrícolas, por elas fazerem barulho quando capturavam as suas mães.
Com 66 anos de idade, Arnaldo Vilanculos afirmou estar a tentar lutar contra um hábito que considera mau. “Tenho descansado muito tarde para a minha idade. A minha esposa já me chamou atenção. Mas está difícil perder o hábito, pois o meu sono só vem depois da hora zero e levanto-me às 4.00 horas da manhã, momento que dedico pelo menos 10 minutos a caminhar na esteira”, revelou.
Na gastronomia moçambicana afirmou que não resiste a um prato de xima com nhangana e, na internacional, a um bom bacalhau a Gomes de Sá.
Texto de Luísa Jorge