Que a vida é cheia de imperfeições não é novidade para ninguém. Há quem diga que o que parece perfeito é o conjunto do imperfeito.
No meio de tanta discussão, a bíblia orienta a não julgar para não ser julgado. Ensina-nos a lidar com defeitos do outro com paciência e misericórdia.
Esse espírito encaixa-se perfeitamente no contexto religioso e na convivência diária entre as pessoas.
Ainda assim, mostra-se importante fazer uma ressalva, apontando para a existência de sectores que compõem o Estado, que relativizam o perdão e prevêem punição mediante alguma imperfeição. Falo, especialmente, das lides militares que encaram o desalinho como um tom dissonante.
Ocorre-me, então, declarar nesta introdução, o que motiva a minha longa mensagem. Ela está ligada a um curto e hilariante episódio ocorrido recentemente em Magude, para onde me havia deslocado a trabalho acompanhada do meu colega e amigo, o foto-jornalista Jerónimo Muianga.
Tudo aconteceu num estabelecimento de venda de refeições, escolhida por nós para matar a fome, após uma jornada de trabalho. Fomos recebidos pela proprietária, a dona Elisa, uma cinquentona jeitosa e simpática.
Após nos sentarmos à mesa, lancei o olhar à minha direita onde me chamou a atenção a presença de um jovem curandeiro, que havia encostado na cadeira o seu cajado, seu fiel amigo. Servia-se, com gula, do seu prato cheio de carne, e de vez em quando ajeitava as capulanas de espíritos que lhe cobriam o tronco que por pouco não absorveram o molho.
Neste espaço estavam também jovens militares, que forravam o estômago, e para completar o cenário, 3 jovens mulheres que davam o ar da sua graça, fazendo movimentações intensas. Tamanha entrega só nos animava, pois dava a indicação de que em pouco tempo teríamos a fome resolvida.
E os pratos giravam de mesa em mesa. Mas um chamou a minha atenção: tratava-se de um guisado de vaca inconsistente, servido num prato gigante, onde cada pedaço de carne se distanciava do outro graças ao espaço existente naquela piscina de molho.
Consequentemente, temi pela minha escolha, eram suspeitas em torno da qualidade do prato de dobrada que eu havia pedido. Mas, o meu medo foi contrariado quando me serviram um molho gostoso, acompanhado de xima branquinha.
E entre uma garfada e outra, assisti a duas cenas incomuns. Na primeira, um indivíduo incauto havia chutado, sem malícia, o cajado do nyamussoro.
Confesso que não contive o riso, sobretudo porque se tratava daquelas ‘imperfeições’ aceitáveis aos olhos da sociedade. Esta falha foi imediatamente resolvida por um aceno positivo da própria autoridade tradicional, que tratou de ‘livrar’ o atrapalhado do peso daquela acção involuntária.
Mas, algo mais sério estava por vir. Eu ouvi um militar a ser chamado de baby. A voz saía de uma das ‘desassossegadas’ meninas que por ali circulavam. O facto não me deixa calar, e faz-me retornar à introdução, onde falo de imperfeições nas lides militares. Certas posturas e determinados linguajaresnão rimam nem com a farda nem com as munições. Mas entenda-se que toleraria tal absurdo se tivesse ocorrido numa única direcção: da jovem garçonete para o militar. O meu desassossego somente cresceu de dimensão no momento que ouvi do militar: “até logo baby!
Texto de Carol Banze