O Presidente dos EUA tomou recentemente uma decisão cujos efeitos levaram a que rapidamente se “arrependesse” e a “revertesse”, ainda que temporariamente. Na sua “guerra comercial” que tem vindo a travar contra a China, Trump escalou a contenda colocando a Huawei, uma gigante chinesa do sector de telecomunicações, na lista negra de empresas que estão banidas de fazer negócios com empresas norte-americanas. No entanto, três dias depois, o Ministério do Comércio dos EUA emitiu uma licença temporária, de três meses, que autoriza que a gigante chinesa continue a operar em solo norte-americano. Esta “reversão” da decisão em poucos evidencia a vivacidade da abordagem da interdependência complexa em oposição a uma abordagem mais nacionalista que tem norteado a política externa dos EUA de Donald Trump.
Ao assinar a ordem executiva, Trump justificou a decisão alegando que o equipamento produzido pela empresa chinesa pode ser usado para espionagem e, portanto, constitui uma ameaça à segurança nacional dos EUA. No centro da controvérsia está o facto de, alegadamente, o Governo chinês poder interferir nos negócios da empresa de telecomunicações. Há receios, por parte dos EUA, de que a China, por ser um país comunista, possa estar a usar a tecnologia da empresa não só para espiar outros países como também para supostamente roubar segredos que possam colocar em causa a segurança.
Os efeitos adversos à economia norte-americana começaram a fazer-se sentir logo após a decisão de banir a Huawei. Empresas norte-americanas, como a Google, a Apple e outras, viram-se compelidas a seguir a ordem de Trump e começaram a implementar o banimento. Entretanto, parece que o “tiro saiu pela culatra”, dado que algumas empresas norte-americanas começaram a ressentir-se do desligamento da Huawei. Dados indicam que, em resultado do banimento da gigante chinesa, o preço das acções da Google caíram em 2,5% e as da Apple em 3%. De igual modo, empresas fabricantes de chips dos EUA – como a Intel, Qualcomm, Xilinx e Broadcom –foram atingidas com uma queda do preço das suas acções em 4%. Ou seja, a decisão de Trump não só produz efeitos sobre a empresa chinesa, como também afecta empresas e consumidores norte-americanos.
Preocupada com as perdas de empresas domésticas, a administração Trump decidiu fazer um recuo na decisão. No entanto, desta vez não foi o Presidente que deu a cara, mas sim o Ministério do Comércio que criou a tal licença temporária que permite que a tecnologia da Huawei continue a ser usada em solo norte-americano por mais três meses. Este recuo é, na verdade, a demonstração de que ainda que a administração Trump tenha abraçado o nacionalismo económico, o argumento da abordagem da interdependência complexa continua ainda a ter valor na explicação de relações internacionais.