Cuba e Irão estão actualmente a “sofrer” devido a pecados cometidos durante a guerra fria, para os quais os EUA ainda não encontraram espaço, no seu “coração”, para os perdoar. Agarrando-se a “rancores” do passado, os EUA continuam a defender a necessidade de “asfixiar” economicamente aqueles dois países. Para lograr tal intento, Washington decidiu punir empresas estrangeiras que efectuam ou queiram efectuar transacções económicas com Cuba e Irão, por considerar ser uma violação das sanções económicas que eles impuseram sobre os dois Estados. Aliás, este comportamento tem sido motivo de alguma crispação entre os EUA e os seus tradicionais aliados da União Europeia, estes últimos a defenderem que deve haver uma maior abertura para com os dois países. Uma análise à intransigência dos EUA em relação aos dois Estados leva a concluir que o seu pecado reside na sua desobediência às ordens de Washington e sua vontade de exercer autonomia na escolha sobre como se devem autogovernar.
No que diz respeito a Cuba, Washington activou recentemente partes de um dispositivo legal, a Lei Helms-Burton, que tinham sido congeladas devido à oposição dos europeus, que abre espaço para que cidadãos norte-americanos cujas propriedades foram confiscadas após a revolução de 1959 possam processar judicialmente empresas estrangeiras que tenham negócios nessas áreas. Aprovada em 1996, a lei tinha o objectivo de endurecer mais o embargo económico que já durava há quase quatro décadas. As partes agora activadas foram congeladas por mais de duas décadas devido ao potencial mal-estar que a sua activação pode causar entre Washington e Bruxelas. Ainda assim, a Casa Branca decidiu reactivá-las por causa de Cuba ser parte do que Trump designa de “troika da tirania”, uma referência aos “desobedientes” e “autónomos” Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Na verdade, Washington virou as costas a Cuba assim que Fidel Casto, líder da revolução cubana, ascendeu ao poder em 1959. Desde aquela altura, o líder cubano mostrou-se desobediente a quaisquer comandos que viessem de Washington e procurou seguir um caminho autónomo. Para além de se recusar a se curvar para as autoridades norte-americanas, Fidel cometeu o “pecado” de abraçar uma governação desde a altura “desprezível” para os EUA: o comunismo. Para Washington, os países “devem” abraçar o modo de vida ou de organização política, económica e social à moda americana, ou seja, seguir os preceitos da democracia liberal e abraçar o capitalismo. A decisão cubana de abraçar o comunismo era também desagradável para Washington por dois motivos. Primeiro, um “irmão” americano “mais novo” e vizinho estava a obedecer os comandos do “mano mais velho” com o potencial de o proteger de quaisquer investidas externas. Segundo, tal “irmão mais novo” estava igualmente a bandear-se para o lado do então maior inimigo dos EUA: a União Soviética. Nem mesmo o desmembramento da União Soviética conseguiu acalmar o coração do “mais velho” para receber de braços abertos o “mais novo”.
A tensão entre Washington e Teerão, por seu turno, tem subido de tom nas últimas semanas. Para além de se terem retirado do acordo nuclear iraniano e terem endurecido as sanções contra o país persa, os EUA parecem estar a preparar-se para uma guerra contra o país. Recentemente, as autoridades de Washington não só anunciaram o envio de 120 mil soldados para a região, como também deram ordens para que todos os funcionários norte-americanos não essenciais se retirassem do Iraque, um país vizinho do Irão. Analiticamente parece ser pouco provável que as manobras norte-americanas deflagrem num conflito armado. Não parece que as autoridades tanto de um como do outro Estado estejam interessadas em enveredar por um confronto militar, mas Washington pode estar a pensar que o tipo de pressão que está a exercer pode levar ao alcance de dois objectivos há muito pretendidos: ou a cedência das autoridades de Teerão para se tornarem “obedientes” e não procurarem autonomia; ou então a eventualidade da mudança de regime por meio de uma revolta popular pela asfixia económica e ameaça militar a que o país tem estado a ser submetido.
Por Edson Muirazeque *