Tem sido prática corrente dos europeus oferecerem “conselhos grátis” aos africanos sobre os perigos destes últimos se relacionarem com os chineses. A narrativa europeia tem dado conta de que se relacionar com a China é mau para o desenvolvimento do continente e que, por isso, os africanos devem continuar a estreitar relações com o “velho continente”. Nessa campanha de vilipendiação, os europeus têm acusado o gigante asiático de estar a delapidar os recursos pesqueiros de África. No entanto, recentemente um activista da organização internacional não-governamental Greenpeace denunciou o “oportunismo” dos europeus que acusam a China de estar a “saquear” os recursos pesqueiros de África quando, na verdade, são eles os primeiros a pilharem os mares africanos. É, portanto, um caso para dizer que no “saque” aos recursos africanos há ciúmes entre os “saqueadores”. Portanto, denúncias vindas de um ou do outro lado não trespassam a realidade de que os dois actores não passam de duas faces de uma mesma moeda.
Ibrahima Cissé denunciou recentemente que não são somente os chineses que têm praticado a pesca ilegal nos mares de África, os europeus também aproveitam-se das fragilidades dos Estados africanos para pilhar recursos pesqueiros. Entretanto, na denúncia a estas práticas maliciosas ao continente, Cissé lamenta a existência de “armas de desinformação em massa” (meios de comunicação social), que são controladas e dominadas pelos europeus e americanos, que se concentram em reportar ilícitos dos chineses e a fazer vista grossa às ilegalidades dos europeus. Tais meios de comunicação social perfilam, assim, não como espaços de informação e formação das sociedades, mas como instrumentos de política externa de Estados poderosos para encobrir os malefícios das suas práticas em Estados ou regiões relativamente “fracos”.
As denúncias de Cissé foram igualmente corroboradas por um estudo do Projecto Sea Around Us. Intitulado Euro vs. Yuan: Comparing European and Chinese Fishing Access in West Africa, o estudo revela que “a União Europeia e a China apresentam desempenhos similares em termos de pesca ilegal, padrões de exploração e sustentabilidade do uso dos recursos”. Ou seja, os dois actores são duas faces da mesma moeda, com a diferença de uma das faces ter à sua disposição o controlo das “armas de desinformação em massa” para dar a entender que a outra face é a vilã da história. Facto interessante é que o estudo em referência destaca que embora o “saque” europeu dê sinais de redução (1,6 milhões de toneladas/ano) e o chinês de aumento (2,3 milhões de toneladas/ano), este último continua ainda abaixo da média de delapidação efectuada pelo primeiro na década de 1970 e 1980 (3 milhões de toneladas/ano). A comprovação científica de que tanto os chineses como os europeus são vilões do “saque” de recursos pesqueiros em África evidencia que os dois actores são “farinha do mesmo saco” no que diz respeito ao relacionamento que pretendem ter com África: controlar e até “saquear” o continente africano e os seus recursos.