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Ensino bilingue também preserva línguas nacionais

Por Idnórcio Muchanga

Liloca Manuel Cossa, 8 anos, está a frequentar a 2.ª classe no ensino bi­lingue, na Escola Pri­mária Completa do 1.º e 2.º Graus de Palmeiras. Domina o xichangana, sua língua ma­terna, e por este motivo os seus pais decidiram que o processo de aprendizagem dela fosse neste idioma. Encontrámo-la na aula de xichangana que decorria de­baixo da sombra de uma árvo­re frondosa. Com o livro aberto e sob orientação da professora, Liloca lê um texto com o título: “Sviqamelo ka Hibraim” (almo­fadas para Hibrahim), enquanto os seus colegas acompanham.

De corpo franzino, cabelo curto e uniforme escolar de cor azul claro (camisa) e azul escuro (saia), Liloca termina a leitura e inicia a recitação do abecedário em xichangana. Mostra domínio na matéria. Contudo, não tem a mesma fluidez quando lhe é pe­dido que o faça na língua portu­guesa. De forma tímida, revela que também tem uma irmã na 3.ª classe do ensino bilingue.

Além de melhorar o aprovei­tamento escolar, o ensino bilin­gue também permitiu que mui­tas crianças em idade avançada passassem a frequentar a escola. É o caso de João Tivane. Tem 11 anos e está na 1.ª classe na Es­cola Primária do 1.º e 2.º Graus de Machiana, na localidade de Nwamatibjana, no distrito da Manhiça.

João Tivane vive com a avó materna, que o matriculou in­conformada com o facto de o neto não frequentar a escola. In­terage com domingo na língua local. E explica que frequentou a escola durante alguns meses quando vivia com os pais, mas acabou abandonando as aulas. Ainda assim, alimenta o sonho de ser professor.

Noutra sala da primeira clas­se, Ada Chiluvane, professora do ensino bilingue há três anos, ensina a pronúncia silábica em xichangana. Enquanto isso, Aida Alberto, de 8 anos, e outras crianças concentram-se na re­petição das mesmas. A pequena Aida é natural de Inhambane e vive com a tia no distrito da Ma­nhiça. Apesar de falar razoavel­mente a língua portuguesa, está matriculada no bilingue, o que, de acordo com a professora Ada, é raro. “Muitos pais cujos filhos têm o português como língua materna optam por colocar os filhos no ensino monolingue. Dizem recear que os filhos de­saprendam o português. Faze­mos-lhes as vontades porque o bilingue não é obrigatório”, ex­plica a professora

Texto de Luísa Jorge
luisa.jorge@snoticicas.co.mz

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