Na semana passada, o Presidente dos EUA, Donald Trump, insurgiu-se contra a atitude dos seus aliados europeus que se recusam a receber seus cidadãos que se haviam juntado às fileiras do Estado Islâmico. Nos seus habituais comunicados via twitter, Trump avisou, mais uma vez, que caso os europeus se recusem a receber os seus “terroristas pródigos” os EUA não terão outra alternativa senão os libertar. Os avisos de Trump aparecem pouco tempo depois de o Presidente dos EUA ter declarado a Síria livre do Estado Islâmico, mas com a contrariedade de as autoridades de países europeus, com destaque para a Grã-Bretanha, França e Alemanha, estarem a recusar-se que cidadãos originários dos seus países sejam repatriados. A recusa dos estados europeus em receber cidadãos nacionais que se tornaram terroristas levanta duas questões: o porquê da recusa e qual será o destino dos terroristas?
Os estados europeus não estão a recusar-se a receber somente os terroristas, mas também se recusam a receber as esposas e filhos de indivíduos que se tenham juntado ao Estado Islâmico. A imprensa internacional reportou vários casos de mulheres, com crianças às suas mãos, que “mostraram arrependimento” por se terem juntado ao Estado Islâmico ou casado com um dos seus membros. Estas mulheres imploravam que as suas famílias, e seus países de origem, as recebessem de volta, mas as autoridades dos países europeus recusaram-se que tais pessoas retornassem aos países de origem.
No que às razões de recusa de receber os “terroristas” diz respeito, dois pontos podem ser levantados. Primeiro, os países europeus que se recusam a receber os seus terroristas pródigos podem estar a querer criar uma imagem de países “imaculados”, no sentido de que o estilo de vida europeu não permite que os seus cidadãos tenham frustrações a ponto de se juntarem a um grupo terrorista. É a ilusão de que o sistema político, económico e social dos países europeus é tão “perfeito” que não existe a possibilidade de os seus cidadãos se radicalizarem a ponto de se aliarem a grupos terroristas. Portanto, a recusa de receber cidadãos europeus que se tenham juntado a um grupo terrorista pode ser vista como uma estratégia de manter a utopia de uma sociedade de “bem-estar” onde todas as frustrações dos cidadãos são resolvidas com recurso a instrumentos pacíficos e democráticos. Ou seja, os estados europeus podem estar a querer remover da “história da humanidade” a menção de que os seus cidadãos foram participantes activos da emergência de um grupo que muito fez contra a humanidade e contra a convivência entre os estados.
Por Edson Muirazeque *