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Um mês após o ciclone

Por Idnórcio Muchanga

Para quem chega hoje por terra, mar ou pelo ar à cidade da Beira, e se abstrai das ruínas, escombros e outros danos causados pelo ciclone Idai às infraestruturas desta cidade, dificilmente pode acreditar que as pessoas com quem cruza nas ruas estiveram com a vida por um fio há poucas semanas.

Aliás, cenário parecido pode ser vivenciado hoje nas vilas de Dondo, Mafambisse e Nhamatanda onde os mercados estão cheios de vendedores e compradores, as estradas com gente em frenético vaivém, carros, motas, bicicletas, txopelas, enfim, trafegam na maior normalidade.

Grande parte do comércio formal começa  a reabrir, ao mesmo tempo que restaurantes e bares acolhem gente que, ao longe, parece nunca ter vivido um episódio inesquecível. É o retorno à rotina que se vai consolidando um pouco por todo o lado, pese embora haja ainda muito sofrimento por sarar.

Verdade é que as marcas da atrocidade do Idai ainda estão escarrapachadas por toda a parte no espaço geográfico que vai de Machipanda, em Manica, até à cidade da Beira, em Sofala, e de Chinde, na Zambézia, até a Govuro, no Norte de Inhambane, onde esta violenta tempestade semeou luto, dor, fome e um rasto de destruição incomparável.   

No caso da cidade da Beira, mais de 15 mil pessoas foram resgatadas e trazidas de diferentes pontos da província de Sofala para os centros de acomodação localizados nesta urbe, isto de 14 de Março a 06 de Abril corrente. Porém, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidade (INGC) começa a desactivar alguns centros por entender que a sua existência já não se justifica.

Conforme apurámos, acima de três mil pessoas disseram “Adeus” aos centros depois de terem recebido kits básicos de sobrevivência contendo alimentos para 15 dias ou mais dias, dependendo do grau de necessidade avaliado por entendidas treinadas para o efeito. “E julgamos que este número vai continuar a crescer à medida que as condições vão melhorando nos locais de origem das vítimas”, disse Augusta Maíta, directora do INGC em entrevista ao nosso jornal.

No referido kit inclui-se produtos de higiene, lonas para cobrirem o que sobrou das suas casas ou para fazerem de tendas e ainda garantias do pessoal que presta a assistência humanitária de que poderão ser atendidos sempre que se justificar e onde quer que estejam.

Outros chegaram aos centros e, depois de apreciarem as condições, optaram por aceitar ir morar em casa de familiares e amigos onde pudessem ter alguma privacidade, facto que também esta a concorrer para a redução do número de pessoas acolhidas nos centros.   

É que, o Idai matou e destruiu o quanto pode, mas quem escapou com vida começa a ensaiar passos para regressar ao seu espaço de origem onde tenta reconstruir, produzir e colocar no canto mais distante da sua mente toda a lembrança da passagem atroz deste ciclone e das cheias que lhe acolitaram.

Nas instalações da antiga Central Emissora da Rádio Moçambique, numa zona conhecida por Ndunda Dois, nos arredores da cidade da Beira, Armandinho José é a voz que mais se faz ouvir a pedir às autoridades que lhe deem uma lona, tenda, ou o que for possível, para que ele vá se reinventar noutro lugar.

Jorge Rungo, na cidade da Beira

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